Com a crise sanitária deveríamos repensar estratégias que fomentassem a nossa capacidade coletiva não apenas de aprendermos a enfrentar os riscos, mas sobretudo a construir alicerces de respostas públicas em diversos domínios não apenas nas funções sociais do Estado, e também áreas nucleares da economia para resposta aos efeitos dos mesmos.
O novo coronavírus foi declarado uma «emergência de saúde pública de interesse internacional» pela Organização Mundial da Saúde (OMS) no final de janeiro e, desde então, tem exposto todas as vulnerabilidades que, de uma forma geral, os estados possuem, quando confrontados com a imprevisibilidade de situações pouco comuns.
A comunidade científica internacional vem formulando há vários anos, quanto aos riscos sistémicos a que as sociedades contemporâneas estão expostas, esta pandemia veio denunciar que o desinvestimento nos serviços públicos de saúde e a entrega das áreas estratégicas da nossa economia a multinacionais compromete de forma sistémica a nossa capacidade de responder. Quero salientar que o Relatório de Avaliação Global das Nações Unidas de 2019 sobre Redução de Riscos de Desastres (GAR2019) – elaborado com a participação de centenas de cientistas, nomeadamente da OMS – alertou especificamente para os riscos biológicos e a consequente ameaça de epidemias e pandemias.
O PCP afirma que a pandemia veio exacerbar as consequências das políticas de direita e sobretudo a nossa incapacidade de superar a necessária soberania alimentar.
A Covid-19 é muito mais que uma emergência de saúde pública. A Covid-19 revela as contradições e vulnerabilidades em diversos sistemas (saúde pública, proteção social, segurança pública, proteção civil e outros) e expõe as condições de pobreza em que vivem milhões de pessoas, agravadas pela negligência de muitos estados na gestão da crise, criando condições para que um surto se torne numa epidemia e esta numa pandemia, dando origem a um desastre económico e social global.
A situação criada pela Covid-19 põe à prova a nossa capacidade de cooperar e de aprender, perante profundas incertezas e riscos. O Povo é sempre o propulsor, infelizmente na democracia burguesa os seus representantes mais uma vez não estão à altura.
É momento de alterar o rumo da nossa história e sobretudo abandonar o modelo neoliberal que garrota os povos à dependência das multinacionais, onde estas usurpam as estruturas governativas, nomeadamente a União Europeia que claudica em assumir decisões coletivas ao serviço dos Povos da Europa e na matriz de solidariedade com os demais países.
É provocador que governantes com responsabilidades acrescidas ao nível do Interior, como a Ministra da Coesão Territorial venham apregoar que não há condições para a suspensão ou abolição das portagens, mas não apresentam alternativas, nomeadamente o fomentar as opções pela utilização dos transportes públicos; no nosso distrito são inexistentes para fazer face às necessidades e sobretudo falham em adotar estratégias de investimento que permita a fixação de população no Interior. Caladinhos quanto à necessária renegociação das parcerias público privadas rodoviárias, pois os parceiros privados á boleia da pandemia queriam mais uns milhões, os mesmos que faltam para a compensação com vista à abolição das portagens.
Cabe-nos a cada um de nós contribuir para a mudanças de políticas e não aguardar que os políticos do centro dos interesses ao serviço do capital determinem o nosso rumo.
É urgente maior militância para questionar o governo relativamente ao modelo de desenvolvimento com vista à coesão territorial e social do nosso país, aprofundam-se as injustiças e desigualdades; é fundamental mudar as opções de investimento público; aprofundar o nosso relacionamento com a natureza; colocar a redução de riscos no centro de uma nova política global.
Os autarcas têm um papel, mas infelizmente muitos ficam reféns de outros interesses, alguns ocultos no seio do espectro partidário que assimila o centralismo do PS e PSD, deveriam ser os impulsionadores dessa militância colectiva e não cederem a pretensas ou falsas promessas de combate do despovoamento e por consequência a desertificação dos chamados territórios de baixa densidade para não chamarem abandonados.
Estamos abandonados e mais ainda não somos contemplados com qualquer plano ou iniciativa de atenuação que procure responder aos danos socioeconómicos causados pela Covid-19, devemos primeiro questionar o sistema político que tornou a pandemia num desastre global do nosso território. Assumamos o nosso papel em contexto regional, não devemos ter pruridos em chamar pelo nome os responsáveis pelo nosso definhamento, alguns dos quais da nossa terra, onde exacerbo a figura melancólica da ministra da coesão territorial, aqui não há político bom ou mau; continuamos a sofrer as opções políticas das políticas de direita, estas as verdadeiras causas pandémicas da destruturação do nosso Interior.
Deste modo é imperativo que se reivindique aos governantes que assumam políticas baseadas em evidências e em ações integradas nos domínios interconectados de redução de riscos de desastres, mudança climática e desenvolvimento sustentável e ocupação do território.
À medida que os decisores políticos agirem para proteger as populações e resgatar a economia global, eles devem apoiar-se no conhecimento científico para garantir a eficácia das decisões de investimento e financiamento de emergência. Importa também apelar à comunidade científica que trabalhe em conjunto, na dimensão multidisciplinar que a situação exige, ajudando a construir as interdependências entre sistemas e agentes dos mesmos.
É o momento para questionar o vírus do sistema capitalista que gera, por si só, as múltiplas pandemias sociais que condenam ao isolamento social e económico de milhares de trabalhadores. Quando se decide cortar salários, quando, na repartição de verbas, o grande capital fica com a parte de leão, não esperariam que PCP se comprometesse com tal opção.
* Militante do PCP