As obras comuns

Escrito por Diogo Cabrita

“O problema das obras comuns reside nas pessoas e nas suas circunstâncias financeiras. De dentro das pessoas vem a noção de prioridade. “

Entre o eu e o coletivo há sempre a fronteira das posses. Num condomínio não podemos todos o mesmo, não usufruímos todos de igual modo a estrutura. Há o teto e há o jardim, há as escadas traseiras e há o elevador. Este é um dos desafios de gerir um condomínio para lá do óbvio. O simples é a demonstração natural de que há fraturas, infiltrações, maus cheiros. O para lá disto inclui embelezamento, higiene, cuidado com os jardins, que tipo de jardins, as ervas, os apontamentos legais, a conta formal coletiva. Viver num prédio é limitado pelas características de construção. Boas janelas, bons isolamentos, boa estrutura de saneamento e águas potáveis transportam mais liberdade, menos restrição ao ruído, menos incómodo para os noctívagos. A relação de vizinhança é essencialmente uma cordialidade de opções. Não se deve fazer ruídos constantemente. Não se deve fazer obras ou distúrbio do silêncio ao domingo de manhã, após as 23 horas. Como disse antes, isto melhora-se com isolamentos, com materiais de construção melhores. Há uma enorme quantidade de novos produtos que pretendem ser retardantes do fogo, melhorar a eficiência térmica, condicionar isolamento acústico, serem protetores contra humidades.
O problema das obras comuns reside nas pessoas e nas suas circunstâncias financeiras. De dentro das pessoas vem a noção de prioridade. Como convencer um amante de musgos e de paredes em negritude que aquilo se resolve, que as obras bem-feitas curam a doença? Como explicar a um cheio de medos que não carece de ferros nas janelas todas, que abri-las areja e beneficia? Como fazer aderir ao isolamento acústico que permite mais farra, mais diversão musical, filmes em “sensurround”? Como participar nas obras comuns se estamos tesos para as privadas? A reunião de condomínio pode ser uma festa ou um pesadelo. Por esta razão florescem as empresas de condomínio nas cidades onde há que gerir habitações com muitas partes comuns. Para isto há a lei dos condomínios a tentar colocar princípios e regras que muitos desconhecem. Há a acessibilidade dos outros aos seus espaços, há a solidariedade com quem envelheceu e não pode mudar de casa, com quem adoeceu e não pode usar as escadas. Isto obriga a pessoas com capacidade financeira, com mente aberta, com egos que cabem nos seus corpos e não vertem deles. Um condomínio é um exercício extraordinário do coletivo e se é bom, tem inúmeras vantagens sobre uma vivenda, sendo uma delas a proteção, outra a companhia. Um mau condomínio é mais complicado porque uma besta incendeia, um crápula falseia, um fona não paga, um bruto desassossega, um doente mental perturba o todo.

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Diogo Cabrita

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