Antes…
A azafama, a promessa, a fantasia da Alice no tal país a dominarem o concelho.
De freguesia em freguesia, os candidatos seriamente preocupados com a moral, a ética, lá foram anunciando uma vida melhor, um futuro mais risonho, debitando as “suas” verdades.
O altruísmo alimentou disputas onde a empatia de um beijo ou de um abraço foi coisa corriqueira nesta propaganda consentida onde se endeusou o herói que, rodeado por um batalhão de apaixonados, lá ia deixando a mensagem da sua ambição pelo lugar.
Eles prometeram, escreveram, juraram, traçaram metas em discursos de condescendência tolerada, de ódio reprimido, mostrando o escaparate previamente embelezado (mesmo percebendo a existência do gatinho com o rabo de fora), praticando o joguinho do politicamente correto, onde o espetáculo grotesco do facilitismo e do nacional porreirismo foi uma constante.
Depois…
A roupagem do antes regressou aos armários. Trocou-se por outra, aquela bem conhecida, de filho da mãe, que nem Alberto Pimenta se atreveria a declamar, sacudindo para trás das costas o cheiro ainda ativo da entremeada, do copo mal lavado ou do porco no espeto.
Uma vitória é uma vitória. Uma derrota é sempre uma derrota e, nem mesmo relativizando os números, o malabarismo aritmético não passará de um conjunto de charadas que jorraram, forte e feio, da ressaca de domingo passado, isto porque nem sempre os vencedores, na sua ânsia incontida da vitória, sabem refletir acerca dos verdadeiros sentimentos (e não só) dos adversários que derrotaram.
Nesta análise convém dizer que a competitividade a que assistimos é extremamente inflexível, restando apenas o paradoxo que demonstra que, na maior parte das vezes, somos menores nas vitórias e muito maiores nas derrotas. Stefan Zweig explica isso.
Se a vitória e os vitoriosos são o resultado do sucesso, quiçá provisório, da sua própria ideologia, o poeta Silva Gaio deixa um recado aos vencedores:
«Num meio estreito de ideias, intolerante e preconceituoso, enredado em miúdos prejuízos, os vencidos encarnavam a largueza de vistas, a tolerância generosa, a independência crítica, à luz da razão clarividente», mesmo percebendo que a expressão latina “Vae Victis” jamais dá direito aos vencedores de mudarem comportamentos, devendo enterrar o machado de guerra nesta declamação de glória com o respeito devido à honra dos vencidos.
Assim, trabalharemos todos (situação e oposição) com as necessárias, mas salutares, diferenças para o bem comum num processo solidário onde impere o conhecido preceito democrático. Desta forma será respeitado o compromisso que o povo lhes confiou.