Notas de campainha

““O povo” não fala – em boa verdade, a maior parte das vezes, o povo grita. “O eleitorado” não tem vontades. Se tivesse, talvez preferisse uma taça de arroz doce e um serão à lareira.”

No último fim-de-semana houve eleições importantes. Em Lisboa, por ser a capital da chafarica, Coimbra, a minha terra natal, Guarda, a origem deste jornal, e Alemanha, que é quem manda nisto. Em todos estes lugares, o senhor das chaves vai mudar.
Como não acredito que “o povo” ou “o eleitorado” seja uma entidade consciente, o resultado das eleições é apenas o somatório de milhares ou milhões de vontades individuais. “O povo” não fala – em boa verdade, a maior parte das vezes, o povo grita. “O eleitorado” não tem vontades. Se tivesse, talvez preferisse uma taça de arroz doce e um serão à lareira.
O que aconteceu foi que houve mais pessoas a escolher um pretendente que estava à porta do que aqueles que estavam no salão. A psicanálise do eleitorado é engraçada para entreter serões de domingo e páginas do “Público”, que fez o favor – aos leitores e ao PS – de explicar bem explicadinho que não foi Moedas que ganhou, foi Medina que perdeu. De resto, não tem grande utilidade.
Ao fim de 45 anos, em Mora, os comunistas foram afastados do poder. Até ver, Moscovo ainda não reagiu.

* O autor escreve de acordo com a antiga ortografia

Sobre o autor

Nuno Amaral Jerónimo

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