Lá pela hora e meia depois do fecho das urnas, estaciona na Praça Velha (Luís de Camões, de seu nome oficial) a viatura de uma estação televisiva. Ninguém estranhou porque, com uma sede de candidatura na esquina de cima e outra na esquina de baixo, era normal. Tão normal como o foi a convivência das ditas durante toda a campanha, desejavam bons dias uma à outra e, caso calhasse, tomavam mesmo um cafezinho, lado a lado, numa das esplanadas. Quem passasse olhava e pensava: maturidade democrática. Por volta dos trinta minutos passados da hora e meia, estaciona a viatura de outra estação televisiva. A essa hora ainda a polícia não se dispusera a ordenar o estacionamento, como quem diz a sancionar os indevidamente estacionados, e, por isso, lá se arrumaram como puderam no centro que conseguiram. Até essa altura, às portas das sedes viam-se apenas os vultos de uns quantos candidatos recortados pela claridade que vinha lá de dentro, a partir daí foi um ajuntar de gente na da esquina de baixo que já nem vulto que se distinguisse havia. Por essa hora, já aos da sede da esquina de cima se lhes adensa a ansiedade na vã tentativa de querer segurar a esperança até ao fim. Mas dois carros de reportagem no mesmo sítio e à mesma hora não são mesmo o presságio que lhes convinha. Infelizmente, para as propostas com que se apresentaram a eleições e para eles próprios, desta vez não é só uma notícia importante, mas sim duas: pela primeira vez, um candidato independente tinha sido eleito presidente do município da Guarda e o PS, partido com vasta tradição de governo do mesmo, tinha tido o seu pior resultado.
Nada que perturbasse a festa de uns, a deceção dos outros e, acima de tudo a sã convivência de estados tão dissemelhantes naquele espaço comum. O que poderá significar que a verdadeira notícia ou, pelo menos a mais importante, bem poderia ser a do respeito e elevação democrática com que os guardenses geriram todo o processo. Depois de uma campanha sem insultos que se vissem, nem atropelos que se notassem, concluiu-se assim também a eleição dos autarcas. Facto que, por si só, muito nos deve orgulhar. Por isso, independentemente dos resultados das escolhas do dia 26 de setembro, os guardenses estão de parabéns e bem podem orgulhar-se do que mais uma vez protagonizaram. Se a culpa de tudo isto foi da velha praça não se sabe, mas lá que tem o condão de ajudar na regulação dos guardenses consigo próprios e com questões de cidadania, tem. Pelo menos não se conhecem desgraças ou desencantos ali acontecidos. Tirando a da estátua do Sancho, vá. Contudo, nem essa lhe quebra a persistência com que nos vai entalhando o feitio. Aliás, não fosse o risco de nos tomarem por néscios, quase que juraríamos que até ele, desde o canto lá de cima, onde tantos detestam vê-lo, nos aplaudiu o jeito.
A velha Praça Velha ainda é o que sempre foi
“Por isso, independentemente dos resultados das escolhas do dia 26 de setembro, os guardenses estão de parabéns e bem podem orgulhar-se do que mais uma vez protagonizaram.”