A reportagem que saiu no “Público”, com o título “No Politécnico da Guarda luta-se pela sobrevivência”, em que se dá nota de que este perdeu 21,5% dos alunos colocados face ao ano passado, faz-me voltar a um tema que já tratei neste jornal: o imperativo de que a Universidade da Beira Interior (UBI) seja mesmo da Beira Interior, e não – como hoje sucede – apenas a universidade da Covilhã.
Recordo que na Lei nº 44/79, de 11 de setembro, que cria o Instituto Universitário da Beira Interior (embrião da UBI), se menciona expressamente, e por diversas vezes, «os distritos da Guarda e de Castelo Branco». O espírito da própria escolha da Covilhã para sede desta universidade regional foi o de aproveitar uma localização quase equidistante das capitais dos dois distritos.
O que se passou nestes 40 anos trai o espírito da Lei e, o que é pior, prejudica os Institutos Politécnicos da Guarda e de Castelo Branco e a própria UBI. Permitam-me que cite o meu texto anterior: «O ensino superior na Beira Interior é o exemplo paradigmático de má estruturação e falta de sustentabilidade (…). Com três centros distintos – um Politécnico na Guarda, outro em Castelo Branco e a UBI na Covilhã – corresponde a um padrão de bairrismo onde cada um quer ter a sua própria escolinha, numa lógica puramente infantil de que a minha é maior que a tua».
E concluía, na altura: «Ninguém o admite, mas se hoje ainda não definham, para lá caminham todos. É o que demonstram as vagas por preencher e as muitas só preenchidas como recurso, ou como segunda (ou terceira) opção. Vivem os três numa lógica de concorrência desleal, pura luta pela sobrevivência». Tenho pena que a realidade me esteja a dar razão.
Agora é tempo de fazer o que tem de ser feito. O caminho, aliás, é apontado pelo presidente do Instituto Politécnico da Guarda (IPG), Constantino Rei, na reportagem do “Público”: a integração do IPG na Universidade da Beira Interior. O mesmo para o Instituto Politécnico de Castelo Branco (IPCB). «Talvez aí se possam dar passos positivos», afirma Constantino Rei.
Ou seja, a solução é o que a Lei prevê desde 1979. Tal como a Universidade do Minho tem dois polos em Braga e Guimarães, também a UBI tem de ser uma universidade com três campus: na Guarda, na Covilhã e em Castelo Branco.
Só com um processo de racionalização do seu ensino superior as três cidades conseguirão ter produção científica de qualidade, internacionalizarem-se e tornarem os seus licenciados e mestrandos competitivos no mercado global. A Covilhã, enquanto centro e sede de uma universidade assim, será a primeira a ganhar com a fusão. Esperemos que não tenha vistas curtas.
* Dirigente sindical