A renda dos três porquinhos

“Era uma vez, viviam na floresta política do parlamento português três porquinhos de esquerda. Por que razão houve, em tempos, suínos a viver à solta numa mata nacional é uma questão que fica para o Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas. “

Era uma vez, viviam na floresta política do parlamento português três porquinhos de esquerda. Por que razão houve, em tempos, suínos a viver à solta numa mata nacional é uma questão que fica para o Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas. A nós, é a fábula que interessa, não a intriguice neo-eco.
O mais velho dos três porquinhos nascera num tempo conhecido como “o da Maria Cachucha”, que sendo impreciso no calendário, garante ao leitor que foi pelo menos antes de existir Facebook. Suínine, de seu nome, acreditava na colectivização da propriedade dos outros, e revivia com saudade o mural com operários e camponeses, fraternos e prósperos, como ele nunca vira em nenhum lugar por onde passeara. Era membro de uma comuna, chamada Porcos Com Paciência.
O segundo porquinho, chamado Portsky, era um revoltado permanente, que queria destruir ou arrastar para a lama a forma de viver de todos os animais da floresta. Pertencia a um grupinho de indignados, que usava um nome inglês, o “Left Flock”.
O porquinho mais jovem, chamado Costoleta, discípulo de Queroensky, era ligeiramente mais esperto que os seus irmãos, e mais ambicioso. A sua fraternidade eram os camaradas com que jogava cartas na casa nocturna “Party do Só Se Alista”.
Com medo do Coelho Mau, Costoleta, o porquinho mais novo, que tinha uma casa maior e mais robusta, convidou os seus irmãos a juntar-se a ele, para não serem abocanhados pelo Coelho Mau, que tinha uma boca tão grande que até lhe chamavam o trinca-troika. Ali viveram os três porquinhos felizes, mas não para sempre.
Certo dia, o rei da floresta, D. Marceleão, decretou que haveria novas votações para ocupação das árvores. Costoleta, por engenho e sorte, ficou com mais de metade das árvores, e apareceram outros bichos, como a Liberalinha e o Texega. Nesse dia, Costoleta achou que já não precisava de companhia, chegou a casa e pôs os dois irmãos na rua, onde ainda hoje os podemos encontrar a fazer manifestações e protestos.

* O autor escreve de acordo com a antiga
ortografia

Sobre o autor

Nuno Amaral Jerónimo

Leave a Reply