Com a pompa e a circunstância que os tempos de modéstia de objetivos aconselhavam foi revisitada pela CIM a marca “Serra da Estrela”.
Serra da Estrela é há muito uma marca, um destino turístico, mas também já uma verdadeira marca comercial ligada à atividade económica da natureza, ambiente e produtos endógenos. Em tempos de maior peso político existiu mesmo a Região de Turismo da Serra da Estrela, cujo trabalho em rede com as Aldeias Históricas, o Turismo Judaico e o Côa, teve inegável impacto no aumento do número e da qualidade do alojamento e restauração, criando novas dinâmicas de emprego e de atividade económica na região.
A marca “Serra da Estrela” é sem dúvida a marca com maior notoriedade, mais óbvia e forte na região, cujo território, todavia, está muito para além, pois vai justamente da Serra da Estrela até ao Douro. Mas é necessário e profilático fazer a leitura política da ação da CIM Beiras e Serra da Estrela para entender o jogo de forças na região.
A aglutinação das NUTS III Beira Interior Norte, Serra da Estrela e Cova da Beira impôs uma clara predominância dos concelhos a Sul, da Covilhã e do Fundão, pelo peso da sua população e da sua economia. Só o peso político de Álvaro Amaro equilibrava a relação de forças, muito embora, por vezes, no que tocou à repartição das vantagens do envelope financeiro e mesmo nalguma concertação estratégica, se tivesse verificado a formação do eixo Guarda-Covilhã-Fundão.
A saída de Álvaro Amaro desequilibrou para Sul o eixo da política da CIM. O relançamento da marca Serra da Estrela é a vitória do eixo Guarda-Covilhã-Seia-Fundão, não só pelo peso político daqueles municípios, como ainda pela importância da economia e das suas empresas.
Ora nos municípios a Norte da região, de Mêda, Trancoso, Pinhel, Figueira de Castelo Rodrigo, Almeida e mesmo do Sabugal, não terá qualquer impacto a referida marca, nem nunca os fluxos turísticos da Serra da Estrela ali chegarão. Não existindo nem no turismo, nem na economia, qualquer valor acrescentado ou impacto da marca “Serra da Estrela” nos municípios a Norte da sub-região estranha-se o coro, a comitiva e a procissão de fé por parte dos decisores políticos destes municípios.
É fascinante como, por vezes, se faz história por acaso, sempre que falta ambição e lucidez.
* Presidente da mesa da Assembleia Distrital do PSD da Guarda e ex-presidente da Câmara de Trancoso