Há algo de injusto na forma como a opinião pública se relaciona com as greves. As greves são quase sempre o único meio de combate dos trabalhadores e, se não fosse o seu impacto negativo, nunca se ouviria falar delas. O problema para a opinião pública é precisamente esse impacto negativo, correspondente ao mal provocado para satisfazer reivindicações, amplificado pela avaliação que os sindicatos fazem do resultado da greve, medido através desse mal: «Hoje, deixaram de se fazer milhares de cirurgias, milhões de pessoas foram impedidas de chegar ao trabalho por falta de transportes, centenas de milhares de estudantes ficaram sem aulas». Esse discurso acaba por abafar as razões da própria greve, tornadas secundárias perante o seu efeito. Acaba também por dar força aos empregadores, protegidos pela opinião pública formada à volta dos efeitos e ignorante das causas.
Nesta última greve de estivadores foi muito fácil fazer notícias à volta dos problemas da Autoeuropa em escoar a produção, dos prejuízos para o porto de Setúbal, dos danos causados na economia nacional. Falou-se menos das condições dos trabalhadores que fizeram greve, contratados ao dia, sujeitos à maior precariedade possível. Estes trabalhadores não têm direito a férias ou subsídio de Natal porque o seu contrato de trabalho não dura sequer um mês: são contratados de manhã e despedidos à noite; se a empregadora não precisar deles, não os contrata e, quando os despede, como o contrato durou menos de um mês, nem tem de os indemnizar. Perante isto, há que perguntar como permitiu a ACT a manutenção, ao longo de tanto tempo, deste estado de coisas. Se as empresas que contratam estes trabalhadores neste regime têm uma atividade constante, então têm de ter um quadro de pessoal permanente. Se o buraco está na lei, que perante alguma interpretação habilidosa permite isto (não permite), então há que mudar a lei. Não se pode é permitir que estas empresas, com interpretações habilidosas e erradas do regime da contratação a termo, acabem por causar danos a todo o país e ainda por cima apareçam depois como vítimas inocentes.
Quanto aos sindicatos, bem fariam em dar primazia à explicação das causas por que lutam em detrimento dos danos colaterais provocados pelas greves. Isto se quiserem ganhar o favor da opinião pública.
Quando os anos de vida nos dao oportunidade de ver algo mais”esperamos nao tornar a ver o que o que antes nos incomodou !Depois de ver policias contra policias” espero nunca ver sindicatos contra sindicatos!O dever de qualquer sindicato e lutar contra o trabalho precario!