A Geração Espontânea e a Enteléquia

Escrito por António Costa

“A enteléquia é, ao mesmo tempo, o que impulsiona a semente a crescer e a tornar-se uma árvore.”

Século após século, ano após ano, filósofos, pensadores e homens da ciência interrogaram-se quanto à origem da vida na Terra e elaboraram um sem número de teorias que tentavam desvendar esses mistérios. Com o decorrer do tempo foi-se passando, de forma gradual, das explicações mitológicas às pesquisas racionais e, por fim, científicas.
Um dos pensadores que primeiro elaborou uma teoria foi o filósofo grego Aristóteles. Este pensador adotou as ideias e observações de outros pensadores e acrescentou-as às suas próprias observações e experiências. A partir de todo esse material, elaborou a sua teoria para explicar um dos temas que o preocupavam: a origem da vida. E fê-lo de acordo com aquela que é conhecida como a Teoria da Geração Espontânea. Esta tese defendia que a vida no planeta surgiu a partir de matéria inerte que «espontaneamente» se transformava para gerar matéria viva.
Realizou observações num lago durante um grande período de tempo e viu que nesse lago nasciam peixes; chegou à conclusão de que os novos peixes tinham saído do lodo.
Como resultado de múltiplas experiências e observações, Aristóteles escreveu as obras “Generatio Animalium” e “Historia animalium”, onde se afirmou ser verdade, e resultado do que tinha observado empiricamente, que os pulgões surgiam do orvalho que cai de uma planta; as pulgas, da matéria em putrefação; os ratos, do feno sujo; os crocodilos, dos troncos em decomposição no fundo das massas aquáticas, e assim sucessivamente. Além disso, Aristóteles não se contentou em mostrar que da matéria inerte podia surgir vida, pois também propôs qual era a força que residia nos elementos e que podia gerá-la. Aristóteles designou essa força por Enteléquia.
Enteléquia é o termo filosófico definido por Aristoteles e tem origem no grego entelechia, palavra que resulta da combinação enteles “completo”, telos “fim” ou “propósito” e echein “possuir”, e significa “possuir o fim em si mesma”. Ou seja, trata-se de uma força que em si mesma contém o fim que pretende alcançar.
Quando Aristóteles utiliza esta palavra está a referir-se a um estado ou existência no qual algo trabalha ativamente para conseguir um fim em si mesmo, e também se refere ao estado no qual se conseguiu realizar a potencialidade, ou seja, se conseguiu a perfeição. Por exemplo, a árvore é enteléquia da semente, o objeto para o qual a semente tende sem influência externa de outras entidades, com o objetivo de concretizar todas as suas potencialidades. A enteléquia é, ao mesmo tempo, o que impulsiona a semente a crescer e a tornar-se uma árvore.
O critério de autoridade de Aristóteles e o significado da sua obra foi tanto que a sua palavra e a sua opinião perduraram durante séculos como uma verdade reconhecida. Durante muito tempo, acreditou-se na geração espontânea. E não havia motivos para que tal não acontecesse, porque se deixarmos apodrecer um pedaço de carne, por exemplo, rapidamente ficará coberto de larvas. Que outras provas eram necessárias para acreditar?

Sobre o autor

António Costa

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