A grande notícia do ano, e a mais esperada, foi a chegada da vacina contra a Covid-19.
Depois de nove meses em que o mundo parou por culpa de um vírus, o início da vacinação foi um momento extraordinário que devemos celebrar. A Europa, mais junta que nunca, esteve bem e negociou a aquisição de vacinas a todos os laboratórios que tinham feito o seu trabalho de investigação. Começou-se pela mais adiantada – a Pfizer – e, finalmente, vê-se uma luz ao fundo do túnel da pandemia.
A escolha dos primeiros a serem vacinados foi polémica, com a maioria dos países a escolherem os mais velhos como destinatários das primeiras vacinas, enquanto Portugal começou pelos médicos e enfermeiros…
Este foi o primeiro Festival da vacinação: a mediatização excessiva da primeira toma de vacinas por parte de médicos de referência ou responsáveis de serviços, supostamente para darem o exemplo, e depois pelos enfermeiros que reclamaram pela falta de protagonismo (se era pelo exemplo começava-se por Marcelo Rebelo de Sousa ou António Costa). Na verdade, foi tudo uma feira de vaidades, com os médicos a comportarem-se como estrelas e os enfermeiros como vedetas de filmes de segunda que querem ter lugar na plateia dos óscares. Com a ministra da Saúde a correr atrás dos holofotes e toda a gente a posicionar-se para aparecer nas câmaras de TV – qual distanciamento social…
Pelo meio outro Festival: Os hospitais do interior que estiveram na primeira linha do combate à Covid-19 até haver vacina, imediatamente foram ostracizados – o Hospital da Guarda chegou a ser considerado de referência e um dos primeiros da região Centro para estar na primeira linha do “combate” à pandemia, mas só recebeu vacinas ao terceiro dia. A qualidade dos serviços e a capacidade médica não diminuiu, o que diminuiu foi a necessidade. Ou antes, a relevância de ser um hospital de retaguarda, para os momentos difíceis e ter capacidade e qualidade reconhecida para poder receber doentes infetados de toda a região Centro, se houvesse necessidade, não chegou para merecer relevância à hora de distribuir a bendita vacina.
E o Festival policial: para quê a escolta às viaturas que transportam a vacina? Se é compreensível que a chegada da primeira viatura a Montemor fosse escoltada a partir de Vilar Formoso, não fossem os maluquinhos negacionistas do novo coronavírus fazer algum ataque à carrinha, não se percebe tanta proteção, tantos guardas, tanta escolta aos veículos que transportam e distribuem as vacinas por todo o país: carros da polícia, batedores em motos (várias), carrinhas com forças de intervenção, ou metralhadoras apontadas em todas as direções… O disparate e a paranoia securitária atingiram o seu zénite em Évora onde o afã de protagonismo levou a PSP a empertigar-se à GNR para escoltar uma carrinha (ganhou a PSP).
Portugal não é o Iraque ou o Afeganistão, ou sequer o Brasil ou os Estados Unidos, Portugal é um dos países mais seguros e tranquilos do mundo, não é um território de terrorismo e desordem como outros, onde se compreende a necessidade securitária, que entre nós é absurda (também graças ao bom trabalho que as forças da ordem executam). Em Portugal, incompreensivelmente um ucraniano morreu às mãos das forças policiais, mas não foi por haver desordem, foi por excesso de zelo das autoridades; em Portugal chamamos terrorismo a um ataque de fúria clubística, quando um grupo de rapazolas agride os seus ídolos e parte uns vidros numa academia de futebol, não porque tenha havido um ataque contra a ordem pública ou um atentado contra o Estado ou as instituições; em Portugal levamos meses a investigar e a julgar um roubo patético de armas em Tancos por uns delinquentes de meia-tigela, que, em pânico, ao querem devolver o que roubaram, envolveram ignóbeis altas patentes do Exército e um ministro tolo num encobrimento inconcebível (entretanto o Estado já gastou milhões em investigação e num julgamento néscio). É este Portugal que agora gasta meios de forma inexcedível em obtusas escoltas policiais a uma vacina que tanto esperámos.
A boa notícia é a vacinação estra a decorrer com ordem e a vacina estar a ser distribuída sem qualquer problema, ao contrário do que aconteceu em tantos outros países, como a Alemanha ou Espanha. E não foi por questões de segurança. É porque Portugal e os portugueses fazem bem quando é preciso. E agora precisamos. Todos.
Votos de um Próspero Ano de 2021.