1- O populismo veio para ficar e é preciso saber lidar com ele. Mas como se vê comunicação social, instituições políticas e titulares destas não sabem o que fazer e o que têm feito é errado.
Durante anos, enquanto na Europa o nacional-populismo crescia e se consolidava a cada eleição, ao ponto de chegar ao poder, em Portugal o ímpeto populista ia germinando, mas foi permanecendo alojado no seio dos chamados partidos tradicionais.
O caso português chegou a ser alvo de elucubrações várias em apurados artigos jornalísticos e científicos, porém apenas a inexistência de ameaças secessionistas e de pressões migratórias parece explicar a chegada tardia do populismo patriótico. É que a corrupção e a não representação política dos eleitores há muito construíam a ameaça.
André Ventura, e a um nível identitário, Joacine Katar-Moreira, levaram o populismo para o Parlamento. A plasticidade e ausência de qualquer escrúpulo político-ideológico do líder do Chega asseguram-lhe evidentes condições para ganhar tração e reforçar eleitoralmente o partido, tanto mais quão maior for a ajuda alheia.
O sr. Presidente da Assembleia da República, sem vergonha de ser parcial e com vontade de ser patriarcal, quis pôr Ventura em sentido, mas o que fez não teve qualquer sentido. O deputado radical precisa de palavras como “vergonha” e “escândalo” como de pão para a boca, e se as usa tantas vezes é porque, esperto que é, sabe que são aquelas que melhor chegam aos ouvidos de quem o ouve. Assim como o cartaz da vergonha é leitura recomendada aos olhos de quem vê em Ventura o porta-voz das “verdades” incómodas.
Tal como o CDS com a história da portinhola, o que Ferro fez foi acender o rastilho para as sempre bombásticas intervenções de Ventura. Com isso, o primeiro recebeu gratuitos milhares de visualizações nas redes sociais, enquanto o segundo levou com insultos que partilhou com os solícitos deputados socialistas dos aplausos ao policiamento. Ventura saiu reforçado, Ferro e a bancada do PS envergonhados.
A desventura de Ferro Rodrigues é o melhor aliado de Ventura. E o maior inimigo da democracia.
2- O Orçamento do Estado para 2020 reitera o princípio da gestão de dependências na definição da política orçamental nacional. Um orçamento de “pequenas medidas” feito para não desagradar à esquerda nem à direita, mas que não agrada a ninguém.
Gere a dependência-mor face à União Europeia e à Zona Euro com o cumprimento do objetivo orçamental de médio prazo (o chamado saldo estrutural, que mede o esforço de consolidação das contas públicas), e administra com o estafado “toma lá, dá cá”.
Porque se há medidas de alívio para famílias, pensionistas e empresas, há também novas taxas e agravamento de impostos sobre o consumo que as pressionam. O ministro das Finanças, Mário Centeno, ironiza dizendo que quem paga o excedente «são os contribuintes». E são mesmo.