A Cidade Natal, que vai mal!

“Ao nível da cultura, a não assinatura do protocolo com a Direcção-Geral das Artes faz o TMG perder 800.000 euros em quatro anos com a respectiva decadência da programação daquele espaço, que já foi um dos ex-líbris culturais da zona Centro e que agora, por força da decisão política deste executivo, de desinvestir na cultura e nivelar por baixo a oferta da mesma aos munícipes guardenses, o irá transformar nalgum recinto para bailaricos e forrós. É este o estado da Arte!”

Tempos houve, num passado recente, em que a Guarda era falada e reconhecida pelo evento designado por “Cidade Natal”, sendo uma das suas grandes atracções durante quase todo o mês de Dezembro. Esta iniciativa, teve a sua origem em 2014, durante o primeiro mandato do Dr. Álvaro Amaro e veio ganhando forma e consistência nos anos seguintes. Um dos grandes objectivos, para além da atractividade em termos de potencial turístico, era fazer da Guarda a Capital do Natal em Portugal, muito contribuindo para esse desiderato o facto de ser a cidade mais alta e com um clima e ambiência que nos transportava para o imaginário natalício. E de facto, durante os dois mandatos do PSD à frente da autarquia guardense, a nossa cidade foi paulatinamente conquistando o palco do Natal em Portugal. O crescente número de visitantes falava por si e o comércio local aplaudia o certame.
No entanto, desde 2021 operou-se uma inversão ficando o evento deste ano, muito aquém dos tempos áureos de 2018 ou 2019. A Cidade Natal de 2022 foi uma iniciativa como tantas outras por esse país fora, sem o glamour de outros momentos, sem qualquer característica distintiva ou carácter inovador, passando totalmente despercebida ao turista português e espanhol, que outrora enchia de vida e actividade a Praça Velha e zonas adjacentes.
E digo isto com tristeza, porque aquela que era uma das marcas mais distintivas da Guarda e que muito trabalho e investimento custaram aos anteriores executivos, foi agora quase que deixada ao abandono, definhando nestes dois últimos anos, quem sabe, até se tornar moribunda no próximo, para finalmente desaparecer no seguinte.
Mas, infelizmente, o exemplo da Cidade Natal, alastra-se a muitos outros campos do governo autárquico. Por exemplo, ainda não ouvimos do Senhor Presidente da Câmara uma explicação sólida, objectiva e verdadeira sobre o estado da arte no caso da Unidade de Emergência Protecção e Socorro (UEPS) da GNR. O governo, pela voz do Senhor Ministro da Administração Interna já deu a certeza que aquele comando seria instalado na Guarda, assim haja por parte da autarquia a apresentação de um espaço com condições para albergar aquela estrutura. O executivo, ou porque não sabe ou porque não quer, furtou-se à responsabilidade de fazer o trabalho de casa e enredou-se num lamentável jogo de passa culpas, que um dia rebentar-lhe-á nas mãos e fará com que outros concelhos aproveitem o desleixo da Guarda para conseguirem para o seu território aquela tão ambicionada unidade.
Ao nível da cultura, a não assinatura do protocolo com a Direcção-Geral das Artes faz o TMG perder 800.000 euros em quatro anos com a respectiva decadência da programação daquele espaço, que já foi um dos ex-líbris culturais da zona Centro e que agora, por força da decisão política deste executivo, de desinvestir na cultura e nivelar por baixo a oferta da mesma aos munícipes guardenses, o irá transformar nalgum recinto para bailaricos e forrós. É este o estado da Arte!
Muito mais poderia aqui lamentar-me, mas, apesar de tudo, o Natal é época de tolerância e um novo ano que se avizinha é sempre de esperança.
Gostaria de desejar a todos umas óptimas entradas em 2023 e que a Guarda, à semelhança de todos nós, entre neste novo ano com o pé direito e consiga encontrar o rumo que ultimamente tem perdido.

* O autor escreve ao abrigo dos antigos critérios
ortográficos

Sobre o autor

Ricardo Neves de Sousa

Leave a Reply