821 Carta Fatal

Escrito por Henrique Monteiro

«Certamente que cairá a máscara da pandemia, mas teimam em não cair as máscaras daqueles que ao longo dos anos vêm contribuindo para o nosso confinamento»

O 821º aniversário da Guarda é comemorado de máscara. É um aniversário triste. De máscara e em confinamento. O momento atual assim o determina.

Contudo, tenho esperança que, passada a pandemia, a máscara irá cair na Guarda e que a vida irá voltar à normalidade. Uma normalidade já de si confinada, pois esse é uma espécie de castigo a que a cidade tem vindo a ser condenada por todos os que insistem em se nos apresentarem mascarados.

Certamente que cairá a máscara da pandemia, mas teimam em não cair as máscaras daqueles que ao longo dos anos vêm contribuindo para o nosso confinamento.

Se dúvidas havia, elas ficaram dissipadas no dia 5 do corrente mês, quando a nova administração da ULS, mascarada de quem vinha para resolver problemas, entendeu por bem conceder à Guarda uma Carta Fatal. Lá pensariam que, nesta altura, era o presente ideal e do qual estaríamos necessitados.

Pensaram mal e agiram de acordo. Ao contrário da Carta de Foral, que deu privilégios à Guarda, e sobre a qual agora celebramos o 821º aniversário, no dia 27 de novembro de 2020, esta Carta Fatal retira direitos a quem, por uma razão ou outra, ainda resiste por estas paragens esquecidas do interior de Portugal e necessita de cuidados médicos para continuar a ver. A Carta Fatal proíbe a inscrição de doentes para cirurgia oftalmológica na ULS da Guarda.

O 5 de novembro de 2020, dia da atribuição desta Carta Fatal, nunca será uma data para comemorar, mas também não será uma data para esquecer. Manteremos sempre bem presentes os benefícios que nos proporcionam, da mesma forma que não olvidaremos os prejuízos que nos causam. D. Sancho I e o Conselho de Administração da ULS assim quiseram que fosse, cada um à sua maneira.

As dúvidas também ficaram afastadas e também não temos razões para comemorar nem olvidar a aprovação do PNI 2030 (Plano Nacional de Investimentos) desequilibrado e assimétrico, aparentemente bem-intencionado (como são todos), mas que, depois de devidamente dissecado, apenas evidencia o abandono definitivo do interior.

Para a Guarda também foi/ é/ será uma autêntica Carta de Desconexão Nacional, quando nos vão tentando convencer que há um Ministério da Coesão Territorial. É de dizer: TIREM AGORA AS MÁSCARAS OU FIQUEM COM ELAS PARA SEMPRE.

Termino com uma citação de Maria Antonieta Garcia: «Falar da Guarda, sem que a saudade passe uma demão a afagar tempos e pessoas, é tarefa árdua a que renuncio». É também com nostalgia que não renuncio a uma Guarda que se mantenha em guarda pelas pessoas que ainda guarda.

821 felicitações para a Guarda. Sem MÁSCARA.

Presidente da Distrital da Guarda do CDS-PP

Sobre o autor

Henrique Monteiro

Leave a Reply