A Revolução dos Cravos foi há 45 anos! E, na semana em que se celebra o dia da Liberdade, parece que as pessoas nem se dão conta e já esqueceram (ou não sabem) que, há 45 anos, vivíamos num regime opressor, sem liberdade, sem liberdade de expressão, com presos políticos, com tortura, censura, isolamento internacional e em guerra – a guerra colonial (que de resto foi o âmago da contestação e precursora da revolução). 45 anos depois o 25 de Abril tem de ser recordado; 45 anos depois o 25 de Abril tem de ser celebrado!
Podemos olhar para a mesma data e concluir o contrário do atrás exposto (e igualmente relevante e memorável): a Democracia consolidou-se e a Liberdade é um valor de tal forma impregnado na sociedade que, 45 anos depois da Revolução, nem nos damos conta de que “Abril se cumpriu”.
Hoje, afortunadamente, a sociedade portuguesa é inexoravelmente diferente e assumiu os valores, as conquistas e os pressupostos que a metamorfose revolucionária defendeu: uma sociedade moderna, cosmopolita, universalista e democrática – seria impensável vivermos num regime diferente. E sendo certo que todos os dias ouvimos pessoas lamentarem-se porque houve metas que não foram alcançadas; ou ouvimos tantas vezes os desiludidos de abril; e ouvimos muitos clamarem que “o 25 de Abril não foi feito para isto”… Mas foi. Foi feito para podermos ter opinião diversa (até para criticarmos a Revolução ou o que ela significou ou o que dela resultou), para podermos falar sem receios, para defender a nossa opinião sem medo, para criticarmos e levantarmos a voz contra as injustiças, para clamar contra a soberba dos poderes… 45 anos depois, a liberdade de expressão é uma realidade, mesmo quando há momentos em que o poder e os interesses instalados querem calar os que falamos e escrevemos contra a partidocracia, o amiguismo ou a corrupção (a maior chaga da Democracia).
Recordar o 25 de Abril é homenagear todos os que fizeram a Revolução e é também recordar todos os que deram a vida pela liberdade, os que lutaram pela mudança e os que construíram a Democracia (é não deixar esquecer que «Mesmo na noite mais triste/em tempo de servidão/há sempre alguém que resiste/há sempre alguém que diz não» – Trova do Vento que Passa, de Manuel Alegre). Comemorar Abril é recordar os militares que nessa madrugada se sublevaram e tombaram um regime caduco e podre, mas é também prestar homenagem a todos os protagonistas da história dos 45 anos de um Portugal diferente. De Salgueiro Maia a Otelo, das Forças Armadas a Spínola. Mas também Ramalho Eanes, Álvaro Cunhal, Freitas do Amaral e Amaro da Costa, Sá Carneiro, Lurdes Pintassilgo e tantos outros que em algum momento da história contemporânea portuguesa tiveram a responsabilidade de contribuir para as pequenas e grandes mudanças que o país viveu. E os heróis anónimos, os muitos portugueses que em Abril saíram à rua, que aplaudiram os militares e animaram a mudança. E acima de todos, o que viria a ser a maior figura destes 45 anos: Mário Soares, que, muito para além das apreciações pessoais, foi a figura maior da concretização da utopia do 25 de Abril – a Democracia, a liberdade, a integração de Portugal na Comunidade Europeia, o Portugal moderno…
PS: Há cinco anos, pelas comemorações dos 40 anos do 25 de Abril, oferecemos um cravo com a compra do jornal O INTERIOR. Hoje voltamos a homenagear A Revolução dos Cravos (nomeadamente os militares de Abril) oferecendo um cravo aos primeiros leitores que adquirirem o jornal nos quiosques da Guarda (pedimos desculpa por não estendermos essa oferta aos nossos assinantes, clientes comerciais ou a quem compra o jornal nas grandes superfícies, pois os custos e as dificuldades de logística não o permitem).