Muitos produtos endógenos do concelho da Guarda vão marcar presença na Feira Farta de 2024, um certame que pretende valorizar o que é da região e o trabalho dos produtores e artesãos do município.
A cestaria de Gonçalo é um dos produtos em destaque no certame, que decorre no fim de semana no largo do mercado municipal. A pouco mais de 20 quilómetros da cidade mais alta são feitos inúmeros objetos e peças decorativas com recurso a verga e ao vime, que há centenas de anos são trabalhados naquela freguesia da Guarda. Os cestos e malas são as peças mais comuns, mas a criatividade dos artesãos locais já vai muito mais além. Exemplo disso é Fernando Nelas Pereira, um dos últimos guardiões desta arte de trabalhar a cestaria que na sua propriedade tem «plantações de vime, caldeiras e um espaço para expor as peças mais vistosas».
Aos 70 anos, o artesão gonçalense continua com vontade de colocar mãos à obra e acredita convictamente que «haverá sempre alguém que vai pegar na cestaria». Atualmente, o filho trabalha com ele na produção de novas peças, pelo que a sua arte terá continuidade «por muitos anos». Fernando Nelas Pereira quer, acima de tudo, «divulgar as peças que produz e tem em casa». O gonçalense conta que não se deita «sem visitar» as obras que produz e lamenta que estejam todas «umas em cima das outras» por falta de espaço para as expor condignamente. A participação na Feira Farta é, por isso, uma oportunidade para mostrar o que tem feito e criado há 59 anos. Entre essas peças estão «a Ponte 25 de Abril em vime, dois Titanics, caravelas, castelos, bicicletas, carros, a maquete da própria casa e muito mais», destaca o produtor, cujas mãos e engenho também criaram «um carocha, com 4,5 metros, e que um dia quero ver andar na estrada», acrescenta.
Para o certame, o cesteiro gonçalense desvenda que tem uma «peça especial» preparada para apresentar no arranque da Feira Farta deste ano, mas faz segredo do que será. «Vai ser uma surpresa» para todos», garante Fernando Nelas Pereira, que tem expetativas «muito elevadas» quanto ao sucesso do certame. «Este ano a Feira Farta fica maior para os produtores, tendo em conta que a animação musical vai ser feita por artistas e associações locais», realça, considerando mesmo que esta edição «vai ser melhor que nos anos anteriores».
Na sua opinião, o interesse pelo artesanato gernuíno está a crescer «cada vez mais», havendo «muita procura e interesse em aprender». O gonçalense recorda o desejo antigo de ser criado um Museu da Cestaria em Gonçalo, um projeto que diz ser «crucial e que ficaria para Gonçalo e para os portugueses», visto que seria um importante atrativo turístico para a única vila do concelho. «Quem visitasse a Guarda, Belmonte ou Gonçalo teria a oportunidade de passar também por este espaço e conhecer melhor a arte da cestaria», sublinha. Fernando Nelas Pereira confessa que gostava de fazer parte deste projeto e, sobretudo, de «ter uma oficina universal para que as pessoas viessem fazer cestos e aprender esta arte».
O artesão começou a trabalhar o vime aos 11 anos de idade e diz-se «empenhado há 59 anos» na arte da cestaria de verga e vime. Na Feira Farta, Fernando Nelas Pereira vai estar presente com várias criações em vime – para vender e mostrar. Dar a conhecer esta arte tradicional e genuína é um dos objetivos desta participação do artesão de Gonçalo que, através do vime e da verga, constrói tudo o que lhe vem à mente.