P – A Feira de São Bartolomeu celebra 750 anos. Como vai ser comemorada a efeméride?
R – Trancoso é uma terra de grandes feiras, de grandes eventos e de fortíssimos mercados semanais todas as sextas-feiras ao longo do ano. Naturalmente que a Feira de São Bartolomeu é a maior, aquela que traz mais gente e tem mais impacto porque é um evento de grande referência regional. É extremamente importante devido ao retorno económico que gera. Com 750 anos, podemos dizer, com toda a clareza, que é mesmo a feira franca mais antiga do país, tendo sido criada por D. Afonso III em 1273. Por vezes, há alguma rivalidade, mas saudável, procurando comparar com a feira de São Mateus, em Viseu, mas a História diz-nos claramente que a feira de São Bartolomeu é mais antiga. Todos os anos a Câmara Municipal procura apresentar um programa digno, vasto e que nos orgulha. Esta edição não foge à regra e mantém o mesmo figurino de anos anteriores, porque quando as coisas correm bem não vale a pena mudar. Este ano, além de termos começado a promover o certame muito mais cedo, está a ser preparada uma exposição evocativa, que será inaugurada na sexta-feira, e haverá também um comboio turístico que circulará pelo centro histórico. Vamos ter mais expositores…
P – Em concreto, quantos expositores vão participar este ano?
R – Contamos com cerca de 180 agentes económicos, repartidos por mais de 200 stands. Temos artesanato, maquinaria agrícola, tasquinhas, associações do concelho, diversões, concessionários automóveis novos e usados, ferragens, louceiros e empresas de mobiliário. Já no pavilhão das atividades económicas temos uma participação muito maior de entidades institucionais, como a Comunidade Intermunicipal das Beiras e Serra da Estrela, da Associação de Municípios da Cova da Beira, entre outras. Voltamos também a apostar na promoção das sardinhas doces num espaço próprio de forma a divulgar ainda mais essa iguaria tradicional de Trancoso. Sabendo como têm sido as últimas edições, não tenho dúvidas que esta Feira de São Bartolomeu vai ser um êxito, até porque tem um cartaz que vai trazer muita gente. Naturalmente que há um investimento significativo por parte da Câmara Municipal, mas com grande retorno nestes dez dias do certame, sendo que haverá um bilhete ao preço simbólico de três euros em sete noites. Temos também um bilhete único de 15 euros para todos os dias da feira. São receitas que a autarquia vai receber, a par das verbas resultantes dos stands e espaços no pavilhão multiusos e no campo da feira, que são disponibilizados a preços que vão dos 120 aos 200 e poucos euros. O certame vai ocupar uma área de 32 mil metros quadrados num local muito próximo do centro histórico e quem vier à feira vai ter a oportunidade de visitar e apreciar o nosso património e um dos centros históricos mais expressivos do país, com as Portas d’El Rey, as igrejas e a judiaria, passando pelo castelo e as muralhas medievais.
P – Disse que será a Câmara a cobrar pelos espaços expositivos, isso significa que este ano a feira não é coorganizada com a Associação Empresarial do Nordeste da Beira (AENEBEIRA)?
R – Há uma grande e estreita parceria com a AENEBEIRA, mas todos os procedimentos com stands e palcos foram lançados pela autarquia, pelo que é normal e lógico que seja a Câmara a arrecadar essas receitas. Mas tudo o que é trabalho no terreno, de definir os espaços e colocar os agentes económicos, é competência da associação empresarial. Essa parceria mantém-se, a única diferença relativamente a anos anteriores é as receitas reverterem para a Câmara. De resto, o orçamento da feira ronda os 450 mil euros, mas é um investimento que vale a pena.
P – E por ser um ano especial a organização notou algum aumento de procura por parte de expositores para vir a Trancoso?
R – Essa vertente continua com a AENEBEIRA, que nos tem transmitido que a feira está totalmente preenchida e tem havido recusa de algumas inscrições por não haver mais espaço. Divulgámos esta edição na BTL e noutras feiras, de forma muito mais antecipada, e a procura tem sido maior. Cá estaremos para afirmar que a Feira de São Bartolomeu é a feira franca mais antiga do país e a maior do nordeste da Beira nesta altura do ano.
P – A Feira de São Bartolomeu é também uma oportunidade para Trancoso divulgar e promover a sua dinâmica em termos comerciais, empresariais, e também a resiliência do concelho. Esses são outros objetivos do certame?
R – Sim. Nos últimos anos o país e a região têm atravessado algumas dificuldades fruto da pandemia e agora da inflação e da subida das taxas de juro. Mesmo assim Trancoso tem tido fortes indicadores de sucesso graças à sua localização geográfica – aqui confluem importantes vias rodoviárias, estamos praticamente ligados por autoestrada a Lisboa, Porto, Salamanca e Madrid. No início de julho abriu um supermercado Pingo Doce, que emprega 44 pessoas, o que revela bem as potencialidades de Trancoso. Temos uma área de localização empresarial praticamente lotada e com empresas a laborar três anos após a inauguração. A Câmara vai inaugurar esta sexta-feira, pelas 15 horas, uma incubadora de empresas, a Trancoso Invest, no edifício do antigo posto da GNR, em pleno centro histórico. É um sinal de que queremos apostar muito no empreendedorismo e atrair mais investimento, além de fixar os nossos jovens. Com certeza que serão mais alguns postos de trabalho que vamos conseguir criar. Outro grande investimento do município é a requalificação dos Paços do Concelho. Tudo isto são sinais que Trancoso está no caminho certo do progresso, do desenvolvimento, que há muita gente a acreditar na nossa terra e que vale a pena continuar a viver e a trabalhar em Trancoso. Temos qualidade de vida, serviços públicos a funcionar, boas estradas, gastronomia, segurança, equipamentos culturais e desportivos, cinema. A Escola Profissional tem neste momento cerca de 285 alunos, dos quais 60 estão alojados nas duas residências da instituição, oriundos de 26 concelhos. A EPT tem vindo a crescer nos últimos anos – em 2014 tinha apenas 180 alunos –, o que é muito importante para a cidade. Quero também destacar o dinamismo e proatividade das nossas associações, Juntas de Freguesia e IPSS.
P – Em termos turísticos, Trancoso continua a ser muito procurada pelos turistas? Qual tem sido a evolução?
R – Tem superado todas as expetativas. Estamos a apontar para que 2023 venha a ser o melhor ano de sempre em termos turísticos. São milhares de pessoas que nos visitam. Por exemplo, este ano calculamos ter uma média de cem entradas diárias no castelo, ou seja, ultrapassaremos as 36.500 visitas, que é o nosso objetivo. Sabemos que quem visita o nosso património e o centro histórico vem de outros pontos do país, aqui ficam, almoçam e jantam, contribuindo para dinamizar a economia local. A nossa meta é cumprir e até ultrapassar todos os anos essa média de 36.500 visitantes.
P – E como está posicionado Trancoso no turismo judaico, um nicho de mercado bastante forte?
R – Também temos essa vantagem de estarmos integrados na Rede de Judiarias, e recebemos anualmente muitos turistas de origem judaica para visitar o Centro de Interpretação Isaac Cardoso e a antiga judiaria, onde viveu uma importante e próspera comunidade judaica nos séculos XV e XVI. Hoje, são muitos os turistas norte-americanos, europeus e israelitas que vêm a Trancoso procurar origens dos seus antepassados. Nesse centro interpretativo temos um memorial com o nome das pessoas perseguidas pela Inquisição em Trancoso, um pequeno espaço de oração e temos também a Casa Bandarra ali ao lado. São dois equipamentos que atraem muita gente ao longo do ano. O facto de integrarmos a Rede das Judiarias de Portugal, as Aldeias Históricas e a associação dos Territórios do Côa dá-nos uma promoção muito maior, mas também estamos a apostar na valorização da maior necrópole da Península Ibérica, que fica em Moreira de Rei. Foi um trabalho exaustivo que será concluído nos próximos meses e revelou mais de 600 sepulturas antropomórficas. Será um complemente do nosso centro histórico e estamos certos que o turismo vai continuar a crescer e é uma aposta muito grande. Nos últimos anos surgiram alguns alojamentos locais, temos um hotel, excelente restauração e neste momento há capacidade para acolher os turistas.
P – Chegou à Câmara em 2013, está a cumprir o último mandato. O que mudou desde então?
R – Houve uma mudança muito significativa nestes dez anos. A situação financeira da Câmara Municipal também melhorou muito, hoje temos uma dívida de empréstimos bancários da ordem dos 3,2 milhões de euros e algumas situações pontuais ainda com uma ou outra ação…
P – Qual era o valor da dívida em 2013?
R – A situação era muito difícil, o município não tinha fundos disponíveis… Fomos resolvendo e honrando esses compromissos, pagando a quem devíamos. Hoje, a situação financeira da Câmara é estável, temos apenas a situação da parceria público-privada, que também está numa fase final de acordo entre o município, a TEGEC, a MRG e a CGD. O objetivo é reformular esse empréstimo e ter condições muito melhores para resolver a situação nos próximos 20 anos. Mudou a situação financeira, mas também a forma de relacionamento com os munícipes e as instituições do concelho. O que nos carateriza muito é a proximidade com as pessoas, não queremos deixar ninguém para trás, procuramos estar ao lado das nossas populações, das instituições, coletividades e Juntas de Freguesia, não esquecendo a capacidade e oportunidades que o concelho tem para se afirmar como referência na região, sobretudo a norte da Guarda.
P – Além da recuperação financeira, há alguma obra que queira destacar e possa ser o legado de Amílcar Salvador na presidência da Câmara de Trancoso?
R – São muitas as obras feitas nestes dez anos apesar das dificuldades financeiras, mas também o investimento que fizemos e o trabalho em colaboração com os agentes locais e económicos, o apoio às associações… Hoje, chegamos a Trancoso e temos entradas completamente diferentes, para melhor, com a requalificação das rotundas e das vias. Construímos o quartel dos bombeiros, uma área de acolhimento empresarial, requalificámos a praça municipal, construímos o centro escolar da Ribeirinha, no Reboleiro, e concluímos agora a requalificação do edifício do antigo posto da GNR, que passa a ser uma incubadora de empresas. Há também a dinâmica que conseguimos dar a muitos eventos, a aposta na valorização do património, o trabalho que tem sido feito no setor primário, nomeadamente na área da castanha. De resto, o rés-do-chão da incubadora de empresas vai ser dedicado à divulgação do nosso setor agroalimentar porque sabemos bem da importância da agropecuária, do fumeiro, do azeite, do mel, do vinho, da castanha e da doçaria. Foram dez anos de muito trabalho, de muita dedicação às pessoas.
P – E o que falta fazer e poderá realizar até ao final do mandato?
R – Iniciámos a requalificação dos Paços do Concelho, uma obra extremamente necessária e urgente porque o edifício não tinha o mínimo de segurança para quem ali trabalha e para os munícipes. Havia enormes patologias, desde a cobertura, às caixilharias, às madeiras, eu tinha sempre muito receio que acontecesse ali uma tragédia. As obras são comparticipadas em 670 mil euros através de um contrato-programa com a Direção-Geral das Autarquias Locais. O investimento é da ordem do 1,2 milhões de euros, o resto será suportado pela Câmara. É expectável que possamos regressar aos Paços do Concelho na Primavera/Verão do próximo ano, mas é uma obra que nos vai orgulhar a todos. Esta sexta-feira vamos inaugurar a incubadora de empresas Trancoso Invest, mas temos muitos mais projetos para fazer. Desde logo a requalificação da EB 2 e 3 de Trancoso, da Secundária Gonçalo Anes Bandarra e da EB 2 e 3 de Vila Franca das Naves, cujos projetos estão em fase final de elaboração. São obras que o Governo definiu como prioritárias, mas não temos ainda certeza da sua comparticipação, que, a ser aprovada, rondará sempre os 85 por cento. Se forem realizadas no âmbito do PRR serão comparticipadas a cem por cento.
P – Que outros projetos espera poder lançar?
R – Na área da habitação iremos avançar com a construção de nove habitações no loteamento da Senhora da Fresta. A Câmara adquiriu e infraestruturou esse espaço, elaborámos o projeto e a obra de loteamento está concluída. Temos nove lotes que candidatamos ao programa da habitação e creio que, até 2025, as obras irão avançar. A zona industrial de Vila Franca das Naves está na fase da entrega do projeto e lançaremos de imediato a obra assim que nos chegar. Poderá ter um custo entre 300 a 400 mil euros, mas é muito importante porque queremos continuar a apostar nas zonas industriais do concelho, estando também prevista a construção de uma área empresarial no Reboleiro. Nas acessibilidades falta-nos requalificar duas estradas municipais, que avançarão neste mandato. Trata-se da estrada que liga Sintrão, Rio de Moinhos, Sameiro e Rio de Mel e da ligação entre o limite da EN226 e Carapito. Mas claro que não podemos dar um passo maior que a perna, temos que ir devagarinho.
P – Para terminar, qual é a mensagem que deixa aos trancosenses e aos visitantes por ocasião dos 750 anos da Feira de São Bartolomeu?
R – É sempre com muito gosto e uma alegria enorme que recebemos quem nos visita e muito mais em tempos de feira, como a de São Bartolomeu. É um momento de encontros e reencontros e com um cartaz imponente com Toni Carreira na sexta-feira, os Delfins no sábado, Tiago Silva e o Festival de Folclore no domingo, os Quatro e Meia na segunda-feira e Nininho Vaz Maia no dia 15. Teremos ainda Os Némanus no dia 16, Fernando Daniel no dia 17, Ana Moura no dia 18 e Vitor Kley no dia 19, além de um encontro de concertinas e da atuação do grupo Sete Saias no último dia do certame. Há apenas sete dias com bilheteira de 3 euros, não haverá bilhetes nos dias 13, 16 e 20. Portanto, vale a pena virem a Trancoso. Este ano vamos fazer um controlo digital das entradas, mas as expetativas são elevadas, sempre na ordem das 120 mil pessoas ao longo da feira.
«Estamos muito esperançados no sucesso da incubadora de empresas»
P – A incubadora de empresas Trancoso Invest é a “joia da coroa” deste mandato?
R – Este espaço foi pensado no final de 2018 – a obra esteve praticamente parada durante um ano devido aos trabalhos de arqueologia – e vai ser de uma importância muito grande para Trancoso, sobretudo a pensar na fixação dos mais jovens, inclusivamente nos alunos da Escola Profissional, que têm ali um espaço que lhes permite trabalhar para todo o mundo. A obra aí está no antigo posto da GNR, em pleno centro histórico, e vai ser inaugurada na sexta-feira, pelas 15 horas, depois da abertura da Feira da São Bartolomeu.
P – Como é que os empreendedores poderão instalar-se na Trancoso Invest?
R – Há um projeto de regulamento que está em fase de discussão pública durante 30 dias após ter sido aprovado em reunião de Câmara no final de julho. Entrará em vigor com as alterações sugeridas nesta fase e assim que for aprovado pela Assembleia Municipal. Os interessados devem formular candidatura e indicar os postos de trabalho que vão criar, sendo que durante os primeiros três anos ficarão instalados de forma gratuita e com acesso a um conjunto de serviços partilhados. No edifício ficará também o Gabinete de Apoio ao Emigrante do município. Já há algumas empresas que nos contactaram e estamos muito esperançados no sucesso deste projeto. É expetável que o espaço entre rapidamente em funcionamento e fique completo nos próximos tempos.
P – Que espaço é este, quantos gabinetes e serviços vai ter?
R – O rés-do-chão foi todo ele pensado para o agroalimentar e a divulgação dos nossos produtores locais, tem também um pequeno auditório e uma cozinha experimental. O setor agroalimentar de Trancoso é fortíssimo, com empresas de que nos orgulhamos. Aliás, temos quatro/cinco empresas no ranking das 50 maiores empresas do distrito da Guarda que iremos homenagear esta sexta-feira, assim como as empresas distinguidas como PME Líder. No primeiro e segundo pisos há escritórios, gabinetes e espaços de “coworking” servidos com Internet de ponta. O que se pretende é que as empresas e empreendedores passem por este espaço, desenvolvam o seu negócio e se instalem no concelho.
P – É também é uma forma de atrair os chamados “nómadas digitais” para Trancoso?
R – Sim, ainda há dias funcionários da Câmara visitaram uma incubadora na Covilhã, onde estão alguns “nómadas digitais”, e estiveram também em Águeda. Nós estaremos recetivos para os receber porque o Trancoso Invest é precisamente para eles e para empresas que queiram marcar reuniões com clientes.
P – Qual é o valor final do investimento?
R – Ronda os 650 mil euros, já com o mobiliário, que custou cerca de 60 mil euros. É um investimento comparticipado em 85 por cento com fundos comunitários, tal como a grande maioria das obras que realizámos nos últimos anos.
P – E qual é o ponto da situação da área de acolhimento empresarial?
R – Inaugurada há três anos, tem atualmente duas empresas em laboração e mais duas que vão começar a trabalhar muito em breve. Há sete/oito pavilhões construídos, dos 15 lotes 14 estão atribuídos e é expectável que no final do Verão estejam ocupados. Estamos a falar na criação de cerca de 30 postos de trabalho, são empresas familiares, mas sabemos que não temos mão de obra disponível. De resto, temos muitos bons indicadores no concelho, desde logo a descida do desemprego, mas também a criação de empresas. Segundo dados do Observatório do Comércio e Serviços, passámos de 800 e poucas para 1.366 empresas atualmente. Continuamos a ter oito agências bancárias, seis na sede do concelho e duas em Vila Franca das Naves, isto diz bem da vitalidade do município. Há também números muito significativos nos levantamentos e pagamentos nos terminais de multibanco, que são dos maiores relativamente aos concelhos vizinhos.
«Vamos ter uns Paços do Concelho modernos e funcionais»
P – A reabilitação do edifício dos Paços do Concelho teve início há alguns meses, o que vai mudar?
R – Em termos de estrutura e arquitetura não vai haver grandes alterações, o edifício mantém aquelas fachadas, agora o interior vai ser totalmente reformulado e vai ter condições muito dignas e com qualidade e modernidade. Vai ter acessos para pessoas com mobilidade reduzida, um elevador e vamos resolver os problemas como a falta de eficiência energética e de risco de incêndio, com muita madeira e paredes em tabique. O imóvel tem mais de cem anos, de 1917, que nunca teve uma intervenção de fundo. O aquecimento era a gaz, tínhamos dezenas de botijas durante todo o Inverno e isso colocava mesmo em risco quem ali trabalhava e os munícipes que recorriam aos serviços. A nossa estimativa é que no final da próxima Primavera/Verão de 2024 tenhamos um edifício moderno, funcional e digno para receber os trancosenses e quem nos visita.
P – Será nessa altura que vai lançar a requalificação do Palácio Ducal, outro projeto que faz parte dos seus compromissos eleitorais?
R – É um projeto que temos em mente e também o iremos lançar certamente neste mandato, não tenho qualquer dúvida. Foi necessário proceder a mais alguns diagnósticos relativamente às paredes interiores, o que foi feito em maio, e estamos a aguardar que nos apresentem o projeto de execução final e também a estimativa orçamental, que sabemos que andará pelos 3,5 milhões de euros. Essa vai ser também uma obra muito importante para o centro histórico de Trancoso.
P – Um assunto que continua por resolver ao longo destes anos é o Centro Interpretativo da Batalha de Trancoso. Há um esboço para colocar parte do espólio no Palácio Ducal, mas até agora Trancoso não tem aproveitado muito a classificação do campo da batalha como Monumento Nacional. Porquê?
R – É verdade. Temos manifestado esse desagrado à tutela, à Direção-Geral do Património e à Direção Regional de Cultura do Centro por não ter sido feito ali qualquer investimento por parte da administração central. Este ano, a Câmara Municipal adquiriu mais três hectares no planalto de São Marcos, temos condições para criar esse centro. É ali que celebramos o nosso feriado municipal, a 29 de maio, dia de 1385 em que ocorreu essa batalha, é um facto histórico que valorizamos muito e que evocamos também com a recriação da batalha. No local há também a capela de São Marcos, que não é propriedade do município e está degradada. Temos chamado a atenção da tutela para a necessidade de requalificar e termos ali, no mínimo, um posto de atendimento, sanitários e um conjunto de investimentos que seriam necessários porque, quem conhece o sítio da batalha de Aljubarrota, tem a noção do investimento que foi necessário.
P – A que se deve este impasse?
R – Iremos avançar para um plano de pormenor para toda essa área, mas o mais urgente é a requalificação da capela, um posto de atendimento e sanitários. São equipamentos básicos para os quais ainda não houve disponibilidade da administração central, vamos acreditar que haverá nos próximos tempos.
P – No castelo também tem havido alguns problemas e a intervenção está atrasada. O que se passa?
R – Temos tido algumas reuniões com a empresa adjudicatária, a Biosfera, e tem havido alguns compromissos. As obras têm estado a decorrer, houve trabalhos de arqueologia que demoraram muito tempo. É praticamente o único projeto, também comparticipado, que temos com algum atraso. Essa requalificação contempla a melhoria do acesso ao castelo, o aumento do posto de atendimento e trabalhos na cisterna e num ou outro trecho da muralha. Reconhecemos que a intervenção não tem corrido bem, mas os trabalhos estão a decorrer neste momento e temos pressionado muito o empreiteiro.
«Há acordo para resolver parceria público-privada com a MRG»
P – Relativamente à célebre parceria público-privada, disse que já há um princípio de acordo em que termos?
R – Tem sido um trabalho difícil porque há várias entidades envolvidas, como a TEGEC, que está em fase de liquidação, a MRG e a própria Caixa Geral de Depósitos. Temos estado em negociações nos últimos anos e há agora um artigo do Orçamento de Estado para 2023, o 166º, ao abrigo do qual a Câmara irá adquirir as participações da TEGEC e da MRG. Ao mesmo tempo, há um reajustamento da dívida com a CGD. Nos contratos iniciais de 2009 relativamente a três equipamentos de 9 milhões de euros – o Campo da Feira, a central de camionagem e o Centro Cultural Miguel Madeira, em Vila Franca das Naves – o município iria pagar 29 milhões ao longo de 25 anos. O que está acordado com a Caixa é que iremos fazer um reajustamento da dívida para 7,5 milhões de euros a pagar em 20 anos e com um “spread” de 0,35 por cento. É um juro muito mais baixo, o que significa que a Câmara ficará em condições económicas de satisfazer qualquer coisa como 35/40 mil euros por mês pelo conjunto dessas três obras. Terminando todos os litígios judiciais, a posse daqueles equipamentos passará para a autarquia. Pelo preço inicial do campo da feira, que rondaria cerca de 10 milhões euros pelos contratos então aprovados, a Câmara passará a ser proprietária dos três espaços. Creio que é um bom acordo para todos, tem havido muitos consensos sobre este assunto e estamos numa fase final de levar a proposta à reunião de Câmara, à Assembleia Municipal e depois ao Tribunal de Contas.
P – A aquisição das participações, sobretudo da MRG, implica algum encargo para o município?
R – Não, porque também houve um acordo com a empresa. Há mesmo vontade de todos em resolver esta questão e que os equipamentos passem definitivamente para a propriedade da Câmara. Até porque só assim poderemos fazer algumas obras de melhoria, como é o caso, por exemplo, do Campo da Feira, onde é necessário intervir.