P – Neste momento, quais são as condições do Comando Sub-regional das Beiras e Serra da Estrela para o combate aos incêndios deste verão?
R – No dia 1 de julho iniciámos aquilo que podemos designar como a fase mais crítica do dispositivo de combate a incêndios, que engloba os meses de julho, agosto e setembro, em que teremos o maior efetivo do ano. Relativamente aos bombeiros, que são tutelados pela Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil (ANEPC), teremos uma oscilação entre 400 a 500 operacionais por dia. Esta oscilação deve-se ao facto de todos os corpos de bombeiros já terem equipas de intervenção permanente (EIP). Para além destas, teremos também 39 equipas de combate a incêndios que vão estar ativas durante as oito horas do dia. Estes operacionais estão sediados em 24 corporações de bombeiros e em quatro centros de meios aéreos, onde teremos cinco helicópteros: dois em Seia, um na Covilhã, um na Guarda e outro na Mêda. É um efetivo que podemos considerar já com alguma dimensão e, se somarmos a isto, os meios da GNR e as equipas de sapadores florestais já é uma força considerável que temos à disposição para intervir nas operações.
P – Como tem corrido a mudança de comando distrital para comando sub-regional junto das corporações de bombeiros e restantes operacionais?
R – Do ponto de vista doutrinário nada se alterou. A mobilização de meios é feita de acordo com a proximidade e isso já acontecia antes e continua a ser. Por outro lado, este período que tivemos de adaptação, sobretudo com a junção dos meios dos municípios da Covilhã, Belmonte e Fundão, permitiu que houvesse uma integração. Consideramos que o processo correu bem, está terminado e, neste momento, não há qualquer tipo de rutura, nem em termos operacionais, nem em termos de coordenação.
P – A limpeza dos terrenos tem sido um fator importante na prevenção dos incêndios. Os números apresentados já são satisfatórios para a proteção civil melhorar a prevenção?
R – Podemos dizer que ainda há algumas zonas que necessitam de atenção. Algumas vias de comunicação e alguns aglomerados que ainda não terminaram esse corte de vegetação. Ainda há muitos trabalhos que estão em curso e era bom que não estivessem, mas também temos que perceber que a rede viária é imensa e as necessidades são também muito grandes. Muitas vezes temos situações em que não se conhece o proprietário ou as pessoas não têm recursos financeiros para fazer essa limpeza e tem que ser a Câmara Municipal, os sapadores ou outras entidades a fazer os trabalhos. O que posso dizer é que, face ao cenário que tínhamos há uns anos, a situação melhorou bastante, mas ainda há algum trabalho a fazer.
P – Na apresentação do Plano Integrado para a Resposta aos Incêndios Rurais na Serra da Estrela, o comandante António Fonseca elencou seis princípios gerais para a melhor eficácia do mesmo. À luz daquilo que é observado hoje em termos de preparação, esses princípios estão ao alcance do dispositivo operacional?
R – Estes princípios são orientadores. Vou dar um exemplo: o combate noturno. No caso dos incêndios que aparecem durante a tarde e que não é possível controlar no ataque inicial, temos que garantir que durante a primeira noite essa situação fica resolvida até o nascer do sol. É fundamental que assim seja, porque incêndios que continuem ativos depois do nascer do sol vão progredir com grande intensidade nos dias seguintes. Enquanto houver sol e altas temperaturas, não haverá quase condições para os dominar e teremos um ciclo bastante complicado.
P – Que conselhos tem a dar à população para prevenir os fogos neste Verão?
R – Existem duas questões que temos que ter sempre em atenção. Primeiro, é não usar qualquer tipo de fogo nas áreas rurais ou florestais. Isto é uma questão basilar e fundamental. A outra questão tem a ver com a utilização de maquinaria. Temos que ter em atenção o período do dia em que estamos a utilizar este tipo de equipamento, nomeadamente moto roçadoras e equipamentos cortantes. Estas são as duas questões fundamentais que penso que as pessoas têm de ter em atenção.
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ANTÓNIO FONSECA
Comandante do Comando sub-regional das Beiras e Serra e Estrela
Idade: 64 anos
Naturalidade: Almeida
Currículo (resumido): Licenciado em Biologia pela Universidade de Lisboa (1985); Pós-graduação em Administração Social na Universidade Lusíada (2008); Serviço Militar no Corpo de Fuzileiros do Continente em Vale do Zebro e Alfeite (1983/1985); Docente do ensino secundário (1985/1997); Comandante do Corpo de Bombeiros Voluntários de Almeida (1987/1997); Comandante Operacional Distrital da Guarda, SNBPC e ANPC (2006/2017); Louvor da Federação de Bombeiros do Distrito da Guarda (2001); Louvor do Secretário de Estado de Proteção Civil (2009)
Livro preferido: “A vida é bela”, de Stephen Jay Golden
Filme preferido: “Kingdom of Heaven”, de Ridley Scott
Hobbies: Responsabilidade ambiental