P – A Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Vila Francas das Naves comemora 25 anos. Qual é o balanço deste período?
R – Um balanço francamente positivo. Em 16 de setembro de 1996, 32 sócios fundadores, impulsionados pela dinâmica e audácia de Miguel Madeira, tiveram o arrojo de constituir uma Associação Humanitária de Bombeiros Voluntários em Vila Franca das Naves. Passados 25 anos, fazemos memória de todos eles e de todos os que, ao longo destes anos, serviram e apoiaram esta associação. A todos e para todos o nosso reconhecimento e gratidão. É com os olhos postos na história que sentimos o dever de prosseguir, com determinação, com o verdadeiro espírito de entrega e a mais profunda solidariedade para com o nosso semelhante. Fazemo-lo há 25 anos e por todo este enorme passado repleto de serviço público, de história, de sucesso, estamos muito confiantes e orgulhosos deste nosso corpo de bombeiros.
P – Qual o impacto da pandemia na instituição?
R – A pandemia veio alterar hábitos e rotinas a todos. No nosso quartel houve sempre da parte do comando e do corpo ativo o cuidado de adotar as medidas da DGS para assegurar que o socorro de pessoas e bens não fosse afetado. Foi criada uma equipa Covid que assegurou permanentemente, 24 horas por dia, o transporte de doentes Covid e não Covid. Foram criadas rotinas de trabalho para que o número de bombeiros ao serviço fosse o indispensável. As instalações e ambulâncias continuam a ser desinfetadas com um aparelho adquirido pela associação (gerador de ozono). Tivemos casos positivos no corpo ativo, que foram prontamente identificados e isolados, por forma a que o socorro não sofresse alterações. Além das despesas, que foram muitas, tivemos a preciosa ajuda de diversas instituições públicas e privadas que nos ofereceram diversos EPI’s para o Covid.
P – E como se encontra financeiramente a instituição?
R – Somos uma associação que vive de mão estendida. Os apoios do Estado não chegam para colmatar as despesas correntes e temos tido do município de Trancoso o apoio financeiro que nos vai garantindo o sucesso da nossa missão. Fazemos peditórios na nossa área de atuação que têm sido fundamentais e os nossos sócios beneméritos têm, de uma forma altruísta, contribuído para que economicamente a associação ultrapasse as maiores dificuldades. O nosso bem-haja a todos. Com um parque de ambulâncias envelhecido, em 2020 adquirimos uma nova, que ainda estamos a pagar. As despesas para manutenção das viaturas são um encargo que nos limita financeiramente, mas procuramos de forma equilibrada encontrar as melhores soluções para não interferir no pleno funcionamento do nosso corpo ativo, que é o garante da nossa instituição.
P – Tem havido um aumento ou uma diminuição da procura por parte de novos voluntários? A que se deve isso?
R – Temos conseguido manter o corpo de bombeiros voluntários. Mas reconhecemos que o voluntariado tem vindo a sofrer quebras. A médio prazo pensamos que esta situação tem tendência a agravar-se e que o caminho a seguir irá ser a criação de bombeiros profissionais, tal como já acontece noutros países da Europa. Os nossos jovens não encontram aqui no interior os meios necessários para viverem e trabalharem e quando saem não conseguem conciliar a vida profissional com o voluntariado. A direção e o comando têm procurado, todos os anos, incentivar a prática do voluntariado junto dos mais jovens com a criação das “Escolinhas”, que são compostas por 20 infantes e cadetes.
P – Como vê o setor dos bombeiros no distrito da Guarda? Acha que tem recebido a atenção que merece?
R – As Associações de Bombeiros do distrito da Guarda vivenciam problemas que são comuns, como a falta de voluntários e viverem de mão estendida. Para a Proteção Civil, os bombeiros são os parentes pobres da equação, mas são os primeiros a ser chamados e os últimos a abandonar o palco das operações. E quando se fala em modernizar ou em investir, o poder político vira a cara e deixa aos bombeiros as sobras. Falamos do Cartão Social do Bombeiro, das carreiras contributivas, do reconhecimento de contagem de tempo de serviço para a reforma que existem no papel, mas, na prática, assim não acontece.
P – Para o futuro, quais as ambições dos bombeiros de Vila Francas das Naves?
R – A aposta contínua na formação, que é o pilar dos nossos voluntários, para atingir níveis de excelência na forma do socorro prestado. Somos Posto de Reserva de INEM e trabalhamos com o objetivo claro de conseguirmos ser um Posto de Emergência Medica (PEM). Existimos para servir, e a direção e comando procuram diariamente assegurar os meios humanos e financeiros que permitam manter um corpo ativo bem formado e bem treinado, atuante em prontidão, e que nos orgulhe a todos.
P – Têm existido apoios para a corporação nos últimos tempos? Se sim, quais?
R – Para a gestão desta instituição temos contado financeiramente com os apoios das entidades oficiais, ANEPC e município de Trancoso. Realçamos novamente o papel das pessoas da nossa área de atuação, os nossos sócios beneméritos, sócios e anónimos que nos ajudam e acreditam nesta nossa causa. Também os bombeiros têm conseguido apoios através de atividades e iniciativas próprias.