P – O Festival Mêda + regressa este ano, após uma interrupção de cinco anos. O que possibilitou este regresso?
R – Foi um conjunto de vontades que se alinharam, porque desde que o festival acabou nem toda a gente estava de acordo em realizá-lo, até porque existe alguma mágoa pela forma como acabou. Entretanto, houve novamente alguma vontade política para que as coisas acontecessem e da parte da associação sentimos essa abertura em voltar a fazê-lo autonomamente. Algo que no anterior executivo municipal da Mêda não tinha sido possível. O desafio já tinha sido lançado a quem plantou a semente do projeto em 2010 e este ano os astros alinharam-se para que as coisas fossem possíveis. Não foi possível reunir todo o conjunto de pessoas que estava em 2010, pelo tempo que passou e porque a vida dessa gente também mudou ao longo dos últimos 14 anos, mas ainda existe algum grupo de base e também há muitas caras novas na associação e na organização.
P – O festival foi interrompido devido a dificuldades económicas. Desde essa altura que apoios conseguiram angariar e quanto é que custa um festival deste tipo?
R – Um festival deste tipo ronda à volta dos 60 mil euros. O apoio financeiro da Câmara na altura era de cerca de 25 mil euros e o Mêda+ acaba por uma questão de oito mil euros, o que, comparativamente a outros festivais da dimensão que o nosso atingiu, oito mil euros acaba por ser uma quantia um bocado ridícula. Mas este ano o apoio da Câmara Municipal é maior e sem essa verba era quase impossível tendo em conta que a entrada é gratuita. Entretanto, e tendo em conta todas as dificuldades que sabíamos que íamos encontrar, estamos a trabalhar em novas parcerias que nos podem permitir fazer o festival a longo prazo. O apoio do município é necessário, mas uma das condicionantes que esteve em cima da mesa neste último ano e que nos fez ter alguma reticência em avançar foi mesmo o pensamento de que o festival não podia ser volátil quanto à vontade política e é por isso que temos estado a trabalhar para permitir que o Mêda+ seja mais sustentável do que era e para conseguir mais apoios, na venda do “naming” do festival e dos palcos, para nos permitir também ter alguma capacidade financeira para os próximos anos.
P – E que novidades há nesta edição?
R – De uma forma geral são três: a localização do palco principal, que deixa de ser no recinto da Santa Cruz e passa para o centro da cidade; a distância entre os três palcos que ronda os 250/300 metros, portanto, passa a ser tudo no centro da cidade. Outra das novidades é termos um terceiro palco. Também voltámos a dar vida à música tradicional portuguesa com uma grande presença dos artistas locais na nossa programação.
P – Mencionou que a entrada do festival é gratuita. Tendo em conta os desafios financeiros que já tiveram, esta decisão ainda se vai manter em futuras edições?
R – Essa decisão prende-se com algumas questões, porque a nossa motivação é trazer algo de diferente à região, que já é um bocadinho reticente a certas mudanças, e por isto ser também um chamariz para pessoas que vêm de fora. É uma decisão que nem sempre é fácil de tomar, mas para já, numa fase inicial, será para continuar. Depois teremos que avaliar a sustentabilidade do festival e se terá que haver uma bilheteira, mas por enquanto a vontade é essa. Temos noção dos desafios, mas também sabemos os benefícios que traz.
P – E qual foi a inspiração para criar o festival? Acha que o Mêda+ tem sido uma mais-valia para a região?
R – A inspiração veio de fazer algo diferente comparativamente ao que era feito na altura e fazer alguma coisa deste género na Mêda e no interior era extremamente ambicioso porque temos a certeza que o nosso cartaz não é o mais consensual do mundo e é um bocadinho mais alternativo. Foi esse o desafio, o de tentar quebrar um bocado aquela linha que existia entre Lisboa e o Porto e depois algumas cidades que eram já um bocadinho mais arrojadas na programação, como sempre foi Vila Real, e tentar quebrar esse círculo por onde as bandas que nós gostávamos passavam. E de facto a Mêda passou a ser também parte desse roteiro e ano após ano nós fomos aprendendo com os nossos erros, fomos crescendo e fizemos do Mêda+ aquilo que foi em 2018 e esperamos que, pelo menos este ano, esteja a esse nível. Relativamente à mais-valia que o festival traz, acho que acrescenta muita cultura à Mêda, mas também não nos podemos esquecer do impacto económico que tem a nível local. De momento a capacidade de alojamento no concelho está completamente aproveitada ao máximo e temos até que recorrer a outros municípios vizinhos só do ponto de vista da organização das bandas. E depois todo o comércio tradicional acaba também por ganhar, portanto o festival tem um grande impacto económico e cultural na Mêda e na região.
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ANDRÉ REBELO PEREIRA
Membro da direção da Associação Juvenil Mêda Mais, entidade organizadora do festival Mêda +
Idade: 38 anos
Profissão: Enfermeiro
Naturalidade: Mêda
Currículo (resumido): Licenciatura em Enfermagem na Escola Superior de Saúde do Instituto Politécnico de Viseu; Pós-Graduação em Administração e Gestão de Serviços de Saúde
Livro preferido: Não tem
Filme preferido: “Seven”, de David Fincher
Hobbies: Ouvir música