P – É natural de Celorico da Beira, vive na Guarda e estudou Optometria na Covilhã. Como é que a fotografia apareceu na sua vida?
R – Desde muito cedo comecei a interessar-me pela fotografia e, quando vim estudar para a Guarda, na Escola da Sé, o Instituto Português da Juventude tinha cursos de iniciação à fotografia (revelação e ampliação) e foi aí que começou o meu interesse pela fotografia, na década de 1980. Quando fui para a Universidade da Beira Interior, integrei a Associação Académica e criei o laboratório de fotografia, tendo sido o fundador do clube de fotografias da UBI. Nessa altura desenvolvemos várias atividades, cheguei a lecionar cursos de iniciação à fotografia na universidade e nessa altura fui contactado pelo jornal “A Bola”, que tinha falta de colaboradores na zona. Comecei a fazer alguns trabalhos para esse diário desportivo e colaborei durante cinco anos, entre 1997 e 2002. Depois disso colaborei com o “Jornal do Fundão”, a agência Lusa, o jornal “O Jogo”… e foi assim que a fotografia apareceu na minha vida.
P – Durante o percurso nunca equacionou que a fotografia fosse a primeira fonte de rendimento?
R – Quando estava no jornal “A Bola” era preciso um fotógrafo em Lisboa, na sede do jornal, e foi-me proposto ir para lá. Na altura ainda estava a acabar o curso e estava “vai, não vai” para ficar a tempo inteiro no fotojornalismo, mas optei por seguir Optometria. No início o curso não me cativava muito, mas do meio para a frente comecei a gostar e já não abandonei a área. No entanto, a fotografia ficou sempre como um “hobby”.
P – Quanto ao projeto que agora está exposto no café-concerto do TMG, de um total de 100 fotografias, escolheu 19 para mostrar. Como surgiu a ideia de fotografar o despovoamento do interior e há quanto tempo o faz?
R – O projeto “100 Gentes”, que nesta exposição tem apenas 19 fotografias, é um conjunto de 100 imagens do despovoamento do interior Norte e Centro do país, mais precisamente dos distritos da Guarda e Bragança. O projeto começou em 2019, esteve adormecido nos anos da pandemia e está agora na fase final. No meu dia-a-dia sou optometrista e trabalho em consultórios no Norte e Centro de Portugal. Comecei a constatar que a população que circulava pelos consultórios é cada vez mais idosa. Às vezes estava uma manhã a dar consultas e, quando reparava, o paciente mais novo tinha 75 anos. Comecei a perceber que as localidades têm cada vez menos gente e menos jovens e foi isso que me levou a iniciar o trabalho sobre o despovoamento. Neste momento Portugal é o terceiro país mais envelhecido da Europa. Está a envelhecer mais rápido que os outros países europeus e estima-se que, em 2050, sejamos o país mais envelhecido do continente europeu. Depois, olhando para a zona onde estamos, no distrito da Guarda, temos o concelho de Almeida como o terceiro mais envelhecido do país. A emigração é também um fator importante para esta situação, uma vez que em 10 anos registou-se um milhão de pessoas a emigrar. E há ainda outro problema no interior: as deslocações para o litoral à procura de melhores oportunidades de trabalho. Estas questões levaram-me a iniciar este projeto para lançar o alerta sobre o problema do despovoamento que, nas próximas décadas, se nada for feito vai continuar a agravar-se.
P – O que sentiu depois de concluir o projeto? Tem vontade de ficar no interior e remar contra a maré do despovoamento?
R – O meu objetivo é esse: ficar e remar contra a maré, embora as dificuldades sejam cada vez maiores. O despovoamento e a falta de população no interior estão a levar-nos para uma situação em que, daqui a uns anos, não vamos ter determinadas marcas, produtos ou serviços nesta região. Teremos de nos deslocar mais longe porque não temos população para sustentar estes mercados. Sou empresário, além de optometrista, e continuo a tentar manter as empresas pelo interior, apesar da dificuldade. Este despovoamento não é de agora. Há quatro décadas que somos fustigados pelo despovoamento intensivo. Não há medida nenhuma que se tome de imediato para mudar o despovoamento. As medidas tomadas agora só se refletem daqui a quatro décadas. A nível político é que se torna complicado porque os políticos querem medidas que, nos quatro anos, deem votos, mas para resolver o despovoamento não pode ser assim. Tem de ser a população a unir-se e tentar arranjar soluções para combater o despovoamento.
__________________________________________________________________
PEDRO BALTAZAR
Idade: 46 anos
Naturalidade: Celorico da Beira
Profissão: Optometrista
Currículo (resumido): Licenciatura em Física Aplicada Ótica e Optometria em 1994; Fotojornalista do jornal “A Bola” entre 1997 e 2002 e colaborações com a agência Lusa, jornal “O Jogo” e “Jornal do Fundão”; Fundador do FotoClube da Guarda.
Livro preferido: “Retratos”, de Alfredo Cunha
Filme preferido: “O rapaz do pijama às riscas”
Hobbies: Fotografia e viagens