P – Escreveu o livro “Guarda, cidade republicana com José de Lemos”, de que fala esta obra?
R – O livro fala da Guarda, mas centra-se em José de Lemos – um republicano e ilustre comerciante da cidade. Uma personalidade notável, nascida em Aldeia da Ponte, no concelho do Sabugal. Este livro é uma homenagem exatamente a José de Lemos (1865-1914), que deu o nome do jardim público da cidade mais alta. É uma personalidade notável, mas muito pouco conhecida na Guarda e, portanto, vale a pena ler este livro porque dá-se a conhecer quem foi José de Lemos.
P – Foi o facto de José de Lemos ser uma personalidade praticamente desconhecida dos guardenses que o levou a escrever o livro?
R – Creio que na Guarda nem as pessoas mais novas, nem as mais velhas, sabem quem é José de Lemos. Porque mesmo no Jardim José de Lemos não há nenhuma indicação sobre a personalidade, o que fez, quem foi, quando nasceu ou morreu. José de Lemos é pouco conhecido e os poderes públicos não têm contribuído para o divulgar, dar a conhecer, até porque, na verdade, foi presidente da Câmara da Guarda, foi um republicano de excelência, um comerciante conceituado da cidade e, portanto, é necessário dar a conhecer José de Lemos.
P – E que feitos de José de Lemos se podem destacar? O que é que o diferenciou na sua época?
R – José de Lemos foi um notável e muito ilustre comerciante de produtos alimentares que eram inovações para a cidade mais alta. Para além disso, foi um republicano importante para a causa da República porque motivou as outras pessoas para o republicanismo, andou de aldeia em aldeia com outos republicanos a esclarecer sobre “O que é a República” e a diferença entre República e Monarquia. Olhando ainda para um tempo em que a cidade tinha muitos doentes tuberculosos, e ao mesmo tempo não tinha condições sanitárias, José de Lemos arborizou a Guarda, apostou na jardinagem e contribuiu do ponto de vista ecológico para o espaço urbano. Na sequência destes feitos criou o jardim público que tem hoje o seu nome, o Jardim José de Lemos, no centro. Não é por acaso que tem o nome que tem, foi ele que o criou com outros republicanos e só por si o jardim é um feito extraordinário.
P – E quem é Manuel Sanches? Quando começou a escrever e que outras obras já editou?
R – Sou natural de Aldeia da Ponte e, por isso, conterrâneo de José de Lemos. Para além da Psicologia, tenho tido um grande interesse pela investigação histórica, principalmente o período entre o fim da monarquia e o início da República em Portugal. Publiquei um livro sobre os frades jesuítas do colégio de Aldeia da Ponte, intitulado “1908-1910 Frades Jesuítas – Correm Portugal pela muita tinta dos jornais” – uma investigação de artigos e jornais. E agora publiquei “Guarda, uma cidade republicana com José de Lemos”. Ao seguir o percurso de José de Lemos estamos no epicentro dos acontecimentos republicanos da cidade da Guarda e dos acontecimentos nacionais. O livro não é só sobre José de Lemos, mas muito sobre a cidade mais alta. Por isso, é uma homenagem a José de Lemos, mas é também uma celebração da Guarda.
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MANUEL PERES SANCHES
Idade: 74 anos
Naturalidade: Aldeia da Ponte (Sabugal)
Profissão: Psicólogo clínico
Currículo (resumido): Licenciou-se em Psicologia e trabalhou vários anos como psicólogo clínico e com toxicodependentes em comunidades terapêuticas; Interessa-se por investigação histórica e é autor dos livros “1908/1909 Frades Jesuítas – Correm Portugal pela muita tinta dos jornais” e “Guarda, Cidade republicana com José de Lemos”
Livro preferido: “A chegada das Trevas” – como os cristãos destruiram o mundo clássico de Catherine Nixey
Filme preferido: “Voando sobre o ninhos de cucos” e “O esplendor na relva”
Hobbies: Ler, escrever e tratar da horta