JOSÉ CONDE
Biólogo do Centro Interpretação da Serra da Estrela (CISE), em Seia Idade: 51 anos Naturalidade:Lisboa Profissão: Biólogo Currículo: Fez o percurso educativo em Lisboa e frequentou a Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa no curso de Biologia. Livro preferido: “Dom Quixote de La Mancha”, de Cervantes Filme preferido: “Verdes anos”, de Paulo Rocha Hobbies:Observação de aves e fotografia de natureza e vida selvagem«Há uma perda muito importante de habitats naturais na Serra da Estrela»
P – O que se perdeu na Serra da Estrela com este incêndio?
R – Para além dos profundos impactos sociais e económicos, este incêndio causa um severo impacto na biodiversidade da Serra da Estrela – e convém referir que esta biodiversidade é de extrema relevância, quer no contexto nacional, quer no contexto Internacional. Em resultado deste incêndio há a reportar uma perda muito importante de habitats naturais e seminaturais e reportar ainda o impacto sobre as espécies de fauna e flora selvagens, que é muito significativo. Há um número muito grande de espécies que foram simplesmente eliminadas, consumidas pelas chamas. Mas para além deste impacto direto sobre as populações selvagens, é importante referir que as espécies que sobrevivem terão no pós-fogo muita dificuldade em encontrar refúgio e alimento. Portanto, estes impactos vão prolongar-se no tempo. Podemos referir que praticamente todos os grupos de fauna e flora, evidentes na Serra da Estrela, foram profundamente afetados, em particular aqueles grupos que têm menos capacidade de expressão, estamos a falar de espécies incluídas nos répteis, nos anfíbios, nos invertebrados, alguns pequenos passeriformes… São exemplos de grupos muito atingidos.
P – E há forma de recuperar aquilo que se perdeu com o fogo?
R – É sempre muito difícil responder a essa questão. Para uma resposta rigorosa é necessário desenvolver, realizar trabalhos e conhecer corretamente a distribuição e a abundância das várias espécies. Mas, infelizmente, essa informação ainda é insuficiente. De qualquer forma sabemos que algumas espécies de alguns habitats necessitarão de períodos de tempo muito, muito alargados, para recuperarem, em particular, os habitats florestais e as espécies que dependem desses mesmos habitats.
P – O que podemos esperar para o futuro do Parque Natural da Serra da Estrela?
R – Apesar deste fogo, o Parque Natural da Serra da Estrela continua a ser um extraordinário local para visitar. E a expectativa que eu tenho em relação ao futuro da maior área protegida do país é que seja possível conciliar as atividades humanas com a conservação da natureza. E também seria desejável que se pudessem aumentar os serviços de ecossistemas proporcionados pela área de floresta natural e as áreas de folhosas de forma a aumentar a resiliência do PNSE aos incêndios. A evolução da paisagem e as intervenções a nível de paisagem são sempre intervenções para um horizonte temporal largo. Nesse aspeto estamos a falar para um horizonte de décadas, não há respostas rápidas. A natureza necessita do seu tempo, do seu ritmo.
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