P – Formada na área do Desporto e da atividade física, como surgiu este gosto pela escrita?
R – A escrita surgiu na minha vida aos 13/14 anos, em que tinha uma grande dificuldade em expressar-me. Estava na fase da adolescência, em que surgem mil e um problemas da nossa cabeça e eu era daquele tipo de pessoa que podia ser muito extrovertida, mas no que tocava a problemas guardava-os muito para mim. Então comecei a escrever. Foi aí que comecei a intensificar a parte da poesia, ou seja, a escrita era um refúgio, era a maneira como conseguia deitar cá para fora tudo aquilo que eu sentia. O primeiro poema do livro, que se chama “Descarta”, foi começado com 15 anos e só com 23 anos o acabei. Ou seja, isto já vem de algum tempo. A poesia é aquela coisa que se ouve e na escola, quando se ouvia ou lia livros de poesia, era aquela coisa chata, um bocadinho maçadora, porque não era poesia atual. Mas foi a partir daí que houve o maior impulso de escrever poesia.
P – Mas houve algum momento ou algum fator que a levou a escrever poesia em vez de narrativas?
R – Para mim, a poesia é diferente de todas as escritas porque se escreve com alma. Um bom poema é escrito com alma e isso é arte. É tu veres o reflexo da leitura no leitor com diversos sentimentos ou emoções, sejam elas melhores ou piores. E a poesia consegue fazer isso mais facilmente que uma narrativa ou um texto em prosa. Eu comecei a gostar e a escrever poesia porque eu lia muito Fernando Pessoa, então fui muito influenciada por causa disso.
P – O “EUfemismo” é um livro de poemas que lançaste há pouco tempo. Quais a temáticas da obra?
R – Este livro não fala sobre mim. O primeiro poema fala, porque é uma forma de apresentação para demonstrar que a pessoa que escreveu este livro (eu) é como outra qualquer, que tem problemas, que tem revoltas, que passou muitos situações complicadas nada vida… Ou seja, que as pessoas se consigam ver em mim e, principalmente no livro, alguma similaridade e pensem: “Ok, eu não estou sozinha neste problema” e aí é que se debatem diferentes problemáticas em que até agora eram passados paninhos quentes, como é o caso da violação, da violência doméstica, do assédio, da desigualdade social, do abuso de poder e das doenças psicológicas.
P – Apesar de serem temáticas que têm ganho espaço no debate público, acha que ainda havia a necessidade de escrever sobre elas?
R – Não é uma necessidade é uma obrigação! Não existem livros que abordem as temáticas assim, de uma forma como se fosse um ombro amigo. E por mais que essas temáticas possam ser abordadas pelos media ou por casos que apareçam, não há muita gente que tenha a coragem ou a audácia de escrever o seu primeiro livro sobre eles, porque são assuntos pesados e depende da interpretação do autor. Por isso, este livro foi escrito com muito cuidado e muita analogia para não ser um livro violento na forma de leitura, mas para ser um livro que as pessoas sintam que do outro lado está lá alguém.
P – E em relação ao título do livro, há alguma mensagem que queira passar com ele? Porque, à partida o título é o primeiro impacto que o leitor tem…
R – Eu sempre soube qual seria o título do meu livro. “Eufemismo”, porque desvalorizo essa dura realidade através das analogias a flores. Não é por nada que a capa é uma ilustração minha com flores, não é por acaso. E as pessoas vão descobrir isso ao longo do livro. E o “eu” em maiúsculas refere-se à parte em que estamos sempre em primeiro lugar.
P – Que impacto gostaria que o seu livro tivesse na vida das pessoas?
R – Gostaria que fosse um impacto de receção e debate porque sem debate e sem diálogo não há sabedoria. As pessoas parecem ter medo em falar de temas como a violência ou a relação e pôr esses temas num livro é fazer com que as pessoas se atrevam a falar sobre isso, porque nós não sabemos se a nossa amiga do lado está a passar por isso, e para ajudar muitas vítimas a pedir ajuda.
P – E quanto ao seu futuro profissional, haverá a possibilidade de um investimento na escrita ou passará um bocadinho mais pela sua formação profissional?
R- A nível profissional o que gostaria era de escrever, porque isto é um sonho que se tornou realidade e quem trabalha por gosto não cansa. Eu gosto de educação, mas eu acho que é uma escolha muito difícil, porque escrever é como sonhar.
FRANCISCA OLIVEIRA
Autora do livro “EUfemismo”
Idade: 23 anos
Naturalidade: Ansião (Leiria)
Profissão: Professora de fitness
Currículo (resumido): Licenciatura em Ciências do Desporto e Mestrado em Educação Física na Universidade da Beira Interior, estágio pedagógico em Adaptação em Meio Aquático, professora de fitness na escola do Fundão e numa unidade hoteleira
Filme preferido: “O Diabo Veste Prada”, de David Frank
Livro preferido: “Poesia: Antologia Mínima”, de Fernando Pessoa
Hobbies: Ler, escrever, exercício físico