Cara a Cara

«Este encontro disponibiliza doze oficinas de formação, o que é um luxo»

Prof
Escrito por Efigénia Marques

P – Quais são os principais objetivos da organização do I Encontro de Professores de Física e Química? O que irá distinguir este encontro de outros do género?
R – O Encontro conta com a parceria e colaboração de docentes da Universidade de Coimbra, Universidade do Porto, Universidade da Beira Interior, do Planetário do Porto, d’A Fábrica – Centro Ciência Viva de Aveiro, do ESERO (European Space Education Resources Office) e de firmas do setor da educação e tecnologia. Queríamos fazer algo diferente do habitual, por isso, o formato de oficina é privilegiado como modelo formativo, onde cada docente poderá frequentar três oficinas do seu interesse, entre mais de uma dezena propostas sobre assuntos muito diversificados e de grande importância na prática letiva específica da Física e da Química. O Encontro inova em relação ao que tem sido habitual neste tipo de eventos, oferecendo momentos formativos em ambientes informais, nomeadamente nos Passadiços do Mondego e no Museu de Ótica da Guarda. Os momentos dedicados à partilha de experiências e boas práticas entre docentes permite disseminar o trabalho de valor que se faz nas nossas escolas. O programa, que se inicia com uma palestra plenária do professor Fernando Carvalho Rodrigues e encerra com uma homenagem ao professor doutor José Pinto Peixoto, conta ainda com momentos musicais pelos alunos do Conservatório de Música, por exemplo. Além de tudo, há atividades onde são os nossos alunos os monitores. Participam ainda estudantes universitários em Ensino da Física e da Química, que serão futuros professores.

P – Como foi decidido que seria organizado na Guarda e na Escola Secundária Afonso de Albuquerque?
R – A direção da Associação Portuguesa de Física e de Química (APPFQ) reúne semanalmente online. Muitos dos seus membros nem se conhecia fisicamente e é curioso ver como um grupo de professores com interesses tão próximos se junta. Optámos pela Guarda, um distrito do interior do país, como local da realização deste Encontro, assumindo a missão de facilitar o acesso a formação especifica dos colegas que lecionam ou vivem em distritos tradicionalmente de menor oferta formativa. A escolha da Guarda revela-se uma aposta interessante, pois o Encontro conta com mais de 150 inscritos. A escolha da Secundária Afonso de Albuquerque foi natural por ser a minha escola desde sempre. É ali que leciono e fundei um Clube de Ciências com reconhecimento internacional. Além disso, a escola possui excelentes laboratórios, auditórios, espaços de exposição, salas de aulas muito bem equipadas a nível tecnológico, jardins maravilhosos e funcionários dedicados. A sala de ambientes híbridos também será uma mais-valia na exposição de projetos inovadores. Portanto, temos todas as condições para acolher o Encontro. Contudo, e não posso deixar de referir, a participação dos professores foi em muito facilitada pela dispensa especial ao serviço que o Ministério de Educação atribuiu aos docentes, incluindo um dia para deslocações. Foi uma vitória para a Associação!

P – Qual o envolvimento do Agrupamento de Escolas Afonso de Albuquerque na organização deste encontro?
R – Assim que surgiu a hipótese do Encontro se realizar no nosso Agrupamento, conversei com o diretor da instituição e a aceitação foi imediata, aliás esperava essa postura, conheço os seus objetivos e a vontade de fazer mais e melhor. Depois, como coordenadora do grupo disciplinar, conversei com os meus colegas e decidimos juntos avançar. Constituímos uma comissão organizadora local com os professores de Física e de Química (uma das colegas é do Agrupamento da Sé), um membro da direção do Agrupamento e alunos do Clube de Ciências. Estruturámos um Plano de Intervenção com a colaboração dos colegas de Educação Física e, paralelamente, na Associação, desenhou-se o programa do evento. Tivemos como parceiros locais iniciais a ADM Estrela, o NDS, o IPG, o NERGA e o município da Guarda. A colaboração das dezenas de parceiros e empresários locais excedeu as expectativas, quase todos aqueles a quem se solicitou ajuda foram diligentes, prestáveis e de uma enorme generosidade. A direção do Agrupamento sugeriu que todas as refeições fossem realizadas na escola, num ambiente acolhedor e hospitaleiro. As nossas portas estão abertas. Sem o envolvimento da direção do Agrupamento, dos professores e funcionários, era impossível, até porque temos atividades que dependem da colaboração de docentes de diversas áreas, nomeadamente Educação Física e Música. O Agrupamento mostrará um pouco da sua cultura, enquanto casa de ensino e aprendizagem, além disso, partilharemos um pouco dos nossos recursos locais, as nossas raízes e a cultura beirã. Têm sido dias duros para a comissão organizadora, mas estamos ansiosos por receber cientistas, professores e amigos de todo o país.

P – Para quê a criação de uma Associação de Professores de Física e de Química?
R – De facto, trata-se de uma jovem Associação de Professores. Devíamos ser dos poucos grupos disciplinares que não tinha uma associação, embora existam as Sociedades Portuguesas de Física e Química. A APPFQ tem por objetivo principal contribuir para a melhoria das condições pedagógicas, didáticas, científicas, técnicas, operacionais e logísticas do ensino da Física e da Química. Pretende identificar os problemas relativos ao ensino destas áreas, contribuindo para a sua resolução, facilitar a comunicação e a partilha de experiências entre os professores. Naturalmente, também pretende contribuir para o aumento da literacia científica da população. Em pouco mais de um ano já temos mais de 650 associados e uma entidade formadora, acreditada pelo Conselho Científico-Pedagógico da Formação Contínua (CCPFC). Este Encontro disponibiliza logo doze oficinas de formação, o que, no meu entender, é um luxo. Por exemplo, a postura da APPFQ na época dos exames tem agradado muito aos professores portugueses. Fazemos uma sondagem “à boca da urna”, “ouvindo” os coadjuvantes das provas nas horas que se seguem ao exame, publicamos a sua opinião. Depois, resolvemos, de forma pormenorizada, as provas e partilhamos com os colegas. Essas ferramentas também são úteis aos alunos. Estive na base da constituição desta Associação desde início e tenho, de facto, muito orgulho na sua existência. Pertencer a sua primeira direção acabou por ser natural.

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ALINA LOURO

Professora da Comissão Organizadora I Encontro de Professores de Física e Química

Idade: 51 anos

Naturalidade: Quelimane (Moçambique), mas considera-se da Guarda, para onde veio muito pequenina

Profissão: Professora de Física e de Química na Escola Secundária de Afonso de Albuquerque, na Guarda. Coordenadora de Projetos Científicos. Coordenadora do Clube Ciência Viva.

Currículo (resumido): Licenciada em Física (Ensino); Mestre em Ensino de Física e Química e Doutorada em Física; Autora de artigos científicos no âmbito da Física Médica e Física das Radiações; Investigadora do âmbito dos tumores radioinduzidos; Autora de três livros de Exercícios de Física e Química (10º e 11º anos de escolaridade); Divulgadora de Ciência, em geral, de Física e Química de forma particular; Professora Espacial 2019; Deputada da Assembleia Municipal da Guarda

Livro preferido: “Os Miseráveis”, de Victor Hugo.

Filme preferido: “A Cor Púrpura”, de Steven Spielberg.

Hobbies: ler, viajar pelo planeta (já que não consegue sair dele), passear à beira-mar, croché e costura.

Sobre o autor

Efigénia Marques

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