Cara a Cara

«Com a Covid-19, foram solicitadas aos bombeiros intervenções cujas exigências de proteção individual e coletiva foram para além do admissível»

Escrito por Luís Martins

P – Como surgiu a recandidatura à presidência dos Bombeiros Voluntários Egitanienses? Foi falta de candidatos?

R – O nosso mandato terminou no final de 2020. Foram três anos difíceis, de trabalho continuo de uma direção que não virou a cara à luta perante as necessidades constantes de uma enorme casa. A vontade, o querer e a determinação da direção que agora cessou funções conseguiu fazer um investimento global de cerca de 400 mil euros na aquisição de três ambulâncias, incluindo duas protocoladas e subsidiadas pelo INEM, um veículo de transporte de doentes, um veículo de comando, um veículo 4×4 para transformação em veículo de combate a incêndios, um autotanque, bem como de EPI’s para os nossos operacionais. Por fim, investimos também na manutenção de instalações com a construção de uma lavagem auto, de uma zona suja dos balneários masculinos, na manutenção do sistema de ar condicionado e na finalização da automação dos portões da garagem. Mas ainda há muito para fazer nos próximos anos, pelo que esta direção achou que deveria continuar e candidatou-se a um novo mandato.

P – Quem são os novos órgãos sociais?

R – São praticamente os mesmos. As únicas alterações surgiram na Direção, tendo sido substituídos dois elementos que optaram por sair, não por qualquer divergência, mas por motivos meramente pessoais justificando essa saída pelo elevado número de anos que deram à Associação e que seria a altura de dar o lugar a outros. Nos restantes órgãos, Álvaro Guerreiro continua na presidência da Assembleia-Geral e o Daniel Esteves no Conselho Fiscal.

P – Qual é o impacto da pandemia na Associação Humanitária?

R – A Covid-19 apanhou-nos a todos de surpresa, não só pela agressividade com que chegou ao nosso território, mas também pelas exigências da DGS, que obrigaram as Associações a mudarem o paradigma no que respeita à proteção dos bombeiros e dos doentes transportados. No nosso caso estivemos sempre na linha da frente, transmitimos segurança, estabilidade e confiança quer no controlo da pandemia, quer na retoma da normalidade. Continuaremos a ajudar a ULS da Guarda colocando à sua disposição duas unidades móveis/ ambulâncias para a realização de testes Covid fora da sua sede, junto das populações, em lares e domicílios, em toda a sua área de intervenção. Esta ação foi pioneira em Portugal e talvez na Europa. Aos bombeiros e às suas estruturas foram solicitadas intervenções cujas exigências de proteção individual e coletiva foram para além do admissível. Coube às Associações substituírem-se ao Governo e adquiriram EPI’s por preços incomportáveis, para os quais os seus orçamentos anuais não estavam preparados. No nosso caso foram gastos cerca de 25 mil euros, pese embora a Associação tenha tido uma enorme quebra de receitas, que rondou em média os 70 por cento, em abril, maio, junho e julho respeitante ao transporte de doentes e ao pré-hospitalar. Apesar de tudo, mantivemos sempre o equilíbrio financeiro das nossas contas, garantindo todos os compromissos com os nossos colaboradores, fornecedores e prestadores de serviços, tendo também continuado a garantir as melhores condições operacionais ao corpo de bombeiros.

P – De que forma a pandemia afetou os profissionais? Houve diminuição de procura por parte de novos voluntários e até mesmo de bombeiros a tempo inteiro?

R – Estes homens e mulheres nunca viraram a cara à luta nestes tempos difíceis da Covid-19. Durante o primeiro estado de emergência, três equipas de 10 operacionais passaram, cada uma delas, sete dias seguidos, 24 sobre 24 horas, no quartel, colocando as suas famílias em segundo plano, tudo isto em prol da Guarda e das suas gentes. Também não houve diminuição da procura por parte de novos bombeiros, cujo corpo de voluntários é uma estrutura sustentável quer em dimensão, quer em qualificação, pelo que o socorro e a proteção da população nunca estarão em perigo.

P – Quais são as principais carências do corpo de bombeiros?

R – Como já disse, apesar de três anos de árduo trabalho, esta Associação tem ainda muitas carências. Esta direção comprometeu-se à consecução das seguintes promessas: continuar a reivindicar a criação de mais uma Equipa de Intervenção Permanente na nossa Associação. Trata-se de uma reivindicação antiga, mas mais que justa, não só pela nossa dimensão, como também pela realidade física em que nos inserimos. Há mais de três anos que esta necessidade está na ordem das nossas preocupações. O município da Guarda, a quem desde já agradecemos, aceitou proceder ao pagamento da sua quota-parte na instalação desta futura EIP, pelo que esperamos brevemente que a ANEPC também aceite e que uma segunda equipa desta natureza seja uma realidade na nossa corporação. Temos várias viaturas, nomeadamente ambulâncias/transporte de doentes, em final de vida útil que necessitam ser substituídas no mais curto espaço de tempo. A aquisição de três veículos de transporte de doentes (VDTD) e de uma nova ambulância são uma necessidade. Por outro lado, iremos proceder à certificação da nossa associação junto da DGERT como entidade formadora, o que será uma ajuda enorme na formação de todos os nossos operacionais e dos que nos possam procurar. Por fim, e passados 17 anos sobre a sua inauguração, teremos que continuar as intervenções de conservação e manutenção do quartel.

P – Há três anos disse a O INTERIOR que «gostaria de iniciar o projeto de um espaço museológico destinado aos bombeiros». Qual é o ponto de situação dessa ambição?

R – Sim, é verdade. Esse é um dos propósitos pelo qual esta direção se vai bater e para que, no final do mandato, possa vir a ser uma realidade. Como é do conhecimento geral, esta Associação ainda possui um terreno sobrante da construção do quartel que tinha sido cedido, inicialmente, para a construção da sede da Federação de Bombeiros do Distrito da Guarda. Uma vez que esta instituição já tem uma nova sede cedida pelo município, esta direção e a direção da FBDG acordaram reverter o protocolo existente, ficando o mesmo livre de qualquer ónus. O terreno possui todas as condições para a criação de uma Base de Apoio Logístico, no âmbito do Dispositivo de Combate a Incêndios Rurais. Este edifício, a construir de raiz, compreenderá espaços para vestiários/ dormitórios, cozinha e refeitório, sala de convívio, salas de formação e também o tal espaço museológico. Este projeto, que estamos a estudar, será um desafio para todos nós e esperamos conseguir candidata-lo, para financiamento, ao futuro quadro comunitário de apoio.

 

Perfil:

Carlos Gonçalves

Presidente da direção dos Bombeiros Voluntários Egitanienses

Idade: 59 Anos

Naturalidade: Pinhel

Currículo: Licenciatura em Engenharia Civil, especialização de Hidráulica, pela Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra; Pós-Graduação em Redes e Instalações de Gás Natural e conclusão de Estudos Pós-Graduados em Sistemas Integrados de Gestão (Ambiente, Qualidade e Segurança). Atualmente, é engenheiro civil na Unidade de Saúde Pública da Unidade Local de Saúde (ULS) da Guarda.

Filme favorito: “A Janela Indiscreta”, de Alfred Hitchcock

Livro Preferido: “A Peste”, de Albert Camus

Hoobies: Ler, colecionar selos, caminhar e viajar

 

Sobre o autor

Luís Martins

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