Adriana Machado é estudante de mestrado em Ciências Farmacêuticas na UBI. A sua tese abriu caminho ao desenvolvimento de um estudo, em parceria com a estudante Rita Mó e o docente Manuel Morgado, que venceu um prémio nacional e destina-se a auxiliar a toma de medicação em ambiente de hospitalização domiciliária.
P – Desenvolveu um trabalho de investigação relativo a procedimentos de medicação em ambiente de hospitalização domiciliária que foi premiado como o melhor do ano do “Angelini University Award”. Em que consiste este estudo?
R – Consistiu em apresentar dois sistemas digitais portáteis inovadores – já disponíveis noutros países, mas até ao momento inexistentes em Portugal – para a gestão da medicação no domicílio, de forma a minimizar os erros e a falta de adesão à terapêutica. Estes sistemas permitem uma maior rapidez na deteção de erros na toma dos medicamentos e a implementação atempada de medidas corretivas. Permitem também um registo adequado, no processo clínico do doente, de toda a medicação oral efetivamente tomada por este.
P – O sistema é algo que pode ser utilizado pelos próprios doentes, sem intervenção de um profissional de saúde?
R – Estes sistemas podem auxiliar os doentes em hospitalização domiciliária, pois emitem lembretes para a toma da medicação no horário adequado, evitando possíveis casos de esquecimento. Emitem também um sinal no preciso momento da administração do medicamento, permitindo o registo adequado e em tempo real, no processo clínico do doente, de toda a medicação oral administrada. Por esta razão, numa fase inicial será necessária a presença de um profissional de saúde para que o doente se familiarize com o sistema, e integre o mesmo com o seu tablet e/ ou computador pessoal. Passada esta fase o sistema pode ser utilizado autonomamente, sendo apenas necessária a análise dos resultados pelos profissionais de saúde que o acompanhem. Estes sistemas são um importante instrumento para a avaliação da adesão à terapêutica farmacológica por parte dos farmacêuticos hospitalares, permitindo-lhes que avaliem essa mesma adesão em doentes em regime de hospitalização domiciliária e transmitam esses dados aos cuidadores/ médicos prescritores.
P – O que a levou a desenvolver esta investigação?
R – Sabe-se que a adesão ao regime terapêutico é um importante agente modificador da efetividade dos sistemas de saúde, uma vez que o não cumprimento poderá agravar o estado de saúde do doente e aumentar o risco de mortalidade/ morbilidade. O que me levou a desenvolver esta investigação foi o facto de considerar que estes sistemas digitais apresentam um grande potencial de aumento da eficácia e segurança da terapêutica medicamentosa, apresentando-se como muito promissores na avaliação da adesão à terapêutica, quer em termos clínicos quer em termos económicos. Acredito, por isso, que a sua implementação em Portugal traria benefícios indiscutíveis para os doentes e para o Serviço Nacional de Saúde.
P – Quais os maiores obstáculos colocados ao tratamento de doentes no domicílio? O que pode ser feito para melhorar a eficácia dos seus tratamentos e, consequentemente, qualidade de vida?
R – Os maiores obstáculos são encontrados, de forma mais preponderante, nos doentes dependentes (sem autonomia nas atividades da vida diária), especialmente quando não existe um cuidador com a devida disponibilidade para acompanhar o doente e proceder à administração, em tempo devido, dos medicamentos ou de outros cuidados necessários. Por outro lado, em situações de emergência ou de agudização de certas patologias, é impossível garantir – fora do hospital – cuidados de emergência tão rápidos como quando o doente se encontra internado. A implementação do estatuto do cuidador informal, contemplando formação e facilidades do ponto de vista laboral (a quem mantenha uma ocupação profissional em paralelo), ou apoio financeiro a quem se dedique por inteiro ao acompanhamento dos doentes em regime de hospitalização domiciliária, poderá contribuir para melhorar a eficácia dos seus tratamentos e a qualidade de vida dos doentes.
P – Na sua opinião, a hospitalização domiciliária pode tornar-se a regra, numa região onde a população está cada vez mais envelhecida?
R – A hospitalização domiciliária constitui uma forma inovadora de disponibilização dos cuidados de saúde, simplificando e ajustando-se às reais necessidades de cuidados do doente. Apresenta um modelo organizativo centrado no doente, obtendo ganhos em eficiência e em qualidade, redução de complicações e procurando níveis de maior humanização e satisfação dos utentes e seus familiares. Desde que os critérios clínicos, sociais e geográficos sejam cumpridos e não se verifique nenhum dos critérios de exclusão – e desde que o estatuto do cuidador informal seja efetivamente implementado –, acredito que a hospitalização domiciliária poderá envolver um número cada vez maior de doentes e constituir-se como uma forma complementar, segura e eficiente, ao internamento hospitalar convencional.
Perfil de Adriana Machado:
Estudante envolvida no trabalho de Ciências Farmacêuticas vencedor do prémio “Angelini University Award”
Naturalidade: Felgueiras
Idade: 22 anos
Profissão: Estudante universitária
Currículo: Frequenta o último ano do Mestrado Integrado em Ciências Farmacêuticas na Universidade da Beira Interior
Filme preferido: “A Noiva Cadáver”, de Tim Burton
Livro preferido: “A Lua de Joana”, de Maria Gonzalez
Hobbies: Estar com os amigos/ família, ver séries televisivas, ler, cozinhar