P – Como surge e quais são os objetivos da revista “Giesta”?
R – A “Giesta” tem na sua génese a grande paixão pela literatura e outras expressões artísticas, como a escultura, a fotografia, a moda, a culinária, o desenho e outras que irão integrar a revista. Está integrada num projeto mais abrangente com o mesmo nome, incluindo poesia, conto, ensaio, portfólio, desenho, escultura, fotografia, artigos científicos e outros, com o qual os responsáveis querem dar voz à produção literária no Agrupamento de Escolas Frei Heitor Pinto, na Covilhã, criando uma comunidade de escrita alargada a outras escolas e a criadores aquém e além-fronteiras. É também vontade representar linguagens estéticas de gerações diferentes, refletir sobre o fenómeno literário e as suas implicações práticas ao nível da promoção da leitura e da formação de leitores, articular os diferentes saberes disciplinares no seu contributo da literatura e incentivar e promover a criatividade e originalidade na Comunidade Educativa. A “Giesta” é acima de tudo um lugar e um anseio que vai muito além da expressão literária, instigando a comunidade, não só a produzir textos, mas à criação de obras que contribuam para o conhecimento e avanço nos convencionais da limites escrita. Eu diria que não é só uma revista, antes um convite a mergulhar no universo da reflexão literária.
P – Há assim tanta produção literária no seio do Agrupamento de Escolas Frei Heitor Pinto?
R – Não foi feito pelos criadores da “Giesta” um levantamento da quantidade de produção literária no seio do nosso Agrupamento, assumimos que a escola é o lugar onde se aprende a escrever, onde se escreve e onde se deve ler e escrever. Assim, o nosso desafio não é documentar a abundância da produção literária, mas sim impulsioná-la e destacá-la. De sublinhar que a revista não se confina apenas à produção literária intramuros, mas é uma vitrina de criação nacional e internacional que também queremos, no alargar de fronteiras, trazer para dentro do próprio Agrupamento, desafiando os nossos alunos, professores e assistentes a absorver a riqueza cultural e intelectual com génese neste intercâmbio global. Já no primeiro número temos poesia do consagrado poeta moçambicano Filimone Meigos, uma obra de carvão sobre papel do Fabrizio Matos, poesia visual do Poliartista Feliciano de Mira, gravura de Simone dos Prazeres, os esculturais gritadores do Sebastião Pimenta, uma reflexão de Carlos Adaixo, entre outros, e muitos outros serão desafiados a colaborar.
P – Quais são os critérios editoriais que vão nortear esta publicação?
R – Serão norteados pela valorização de diferentes estilos e géneros literários, exaltando sempre a diversidade. O nosso compromisso é a transposição de barreiras estilísticas – no número dois da revista o portfólio vai ser uma “metamorfoseada extravagância culinária” – e queremos, assim, quebrar todas as barreiras estilísticas, abraçando e impulsionando narrativas que se situam além do trivial. Iremos criar tapeçaria literária simultaneamente rica e multifacetada.
P – Num tempo de domínio das redes sociais, do efémero e da imagem, em que os jovens estão cada vez mais afastados da escrita e da leitura, como pensam envolver os estudantes na revista?
R –Em nada estará comprometida a integridade literária da “Giesta” se estender os seus tentáculos ao mundo das redes sociais e até da IA. No primeiro número temos um texto criado pelo ChatGPT e uma poesia num suporte eletrónico. As redes socias terão de ser uma extensão orgânica da própria revista. Serão parceiras desafiadoras da nossa promoção interativa, iremos buscar jovens “influencers” literários, comprometidos com o nosso universo criativo. A relação com as plataformas digitais terá de ser pacífica no sentido que o vínculo literário com os jovens seja fortalecido. Não há bichos papões. O mundo avança. E nós também.
P – Qual vai ser a periodicidade da “Giesta”? E porquê este nome?
R – A periodicidade será bianual, com duas edições distintas, outono/inverno e primavera/verão, com formato visual sempre diferente. Com esta distância será possível a almejada produção literária substancial e reflexiva. Poderá soar a algo ligado à botânica, porém o nome da revista tem mais a ver com as ressonâncias simbólicas e metafóricas associadas à planta. Perspicazes na analogia, “medra teimosa” e floresce em condições desafiadoras, revelando serenidade beleza e habilidade na renovação constante. A planta homónima numa simbiose floral com a caprichosa revista e que lhe elevam a natureza, numa sempre renovada vitalidade na sua renovação sazonal. São os mesmos ventos que sussurram nas folhas de ambas. A planta será como que a epítome da revista.
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ANA MARIA DE JESUS MONTEIRO
Coordenadora da revista literária “Giesta”, do Agrupamento de Escolas Frei Heitor Pinto, na Covilhã
Idade: 55 anos
Naturalidade: Guarda
Profissão: Professora de Filosofia
Currículo (resumido): Licenciou-se em Filosofia na Faculdade de Letras da Universidade do Porto; Frequenta o doutoramento em Filosofia Ética e Política pela Universidade da Beira Interior; Foi selecionada no concurso “Novos Talentos literatura FNAC” 2011, nos dez primeiros, em cerca de mil concorrentes, com o conto “Um homem pragmático”; Escreveu, em 2012, para teatro, o drama poético “A Invenção da Cor”; Criou a companhia de teatro Agapanto#4, tendo encenado as peças “Um Homem Pragmático” e “Boxing day”. Participou, como atriz, na Oficina de teatro da Covilhã nas peças “Bodas de Sangue” e “O Regresso da Velha Senhora” e, na companhia Calafrio/Guarda, em “Pedro” e “Coração Débil”; Está representada na coletânea de ficções da Guarda “Rua do Encontro”, com o conto “Portas sinóticas falsas”; Integrou o Conselho Redatorial da revista “Praça Nova”
Livro preferido: “Montanha Mágica”, de Thomas Mann, e “Os Cantos de Maldoror”, do Conde de Lautréamont
Filme preferido: “Blade Runner 1”, de Ridley Scott