O mundo actual está rodeado de fenómenos nos quais a Ciência desempenha um papel primordial, sendo inegável a sua influência em muitas mudanças sociais, económicas e políticas que têm ocorrido nos últimos três séculos. Contudo, esta influência não é unívoca, no sentido em que, a própria Ciência é influenciada por vários ambientes que a rodeiam, pelo que é levada a, tal como defende, John Ziman “(…) abandonar muitas das suas roupagens mais queridas”.
Esta ideia está intimamente relacionada com uma outra defendia por David Gooding, ao afirmar que “todas as ciências, por mais abstractas e não-visuais que sejam as suas formulações, repousam igualmente sobre a experiência humana familiar, com vista a comunicarem as suas ideias e argumentos” visto que o raciocínio por imagens contempla pensamentos passíveis de serem compreendidos tanto pela maneira científica como pela maneira não-científica de construir o sentido do mundo.
Deve, por isso, considerar-se o pensamento visual e o raciocínio com imagens como traços distintivos essenciais da ciência, conjuntamente com a medição e o cálculo. Assim sendo, segundo Gooding a percepção humana é o ponto de partida de qualquer ciência, o que faz com que a comunicação dos resultados científicos dependa do modos humanos de percepcionar o mundo, facto este que se encontra intimamente associado à experiência humana e à percepção sensorial do próprio cientista/investigador.
Recordo-me destas ideias da sociologia da ciência quando leio que uma equipa de investigadores italianos construiu um concerto tendo como base o ruído provocado pelos vulcões, com o objectivo de prever qual será próxima erupção.
A ideia é procurar descobrir a melodia que pode ser o sinal, uma espécie de marca registrada, de uma erupção iminente. A previsão de uma erupção vulcânica poderia permitir a tomada de medidas de protecção civil nas horas, ou mesmo dias anteriores aos eventos.
O método musical, conhecido como sonorização de dados, fornece mais uma ferramenta de trabalho para os vulcanólogos. Este método de trabalho consiste na transformação de informação em sons audíveis, utilizando para tal um recurso informático.
O software, desenvolvido por Domenico Vicinanza no Instituto Nacional de Física Nuclear da Itália consegue criar sons audíveis pelo ser humano a partir de ondas sísmicas inaudíveis que percorrem a Terra.
Para produzir esta música, os cientistas usam um sismograma, um registo gráfico de um sismo que grava a intensidade e o intervalo das ondas sísmicas. Posteriormente, os contornos gerados pelo gráfico são cobertos com notas musicais que depois são reproduzidas por sintetizador digital.
As potencialidades da transformação de informações complexas em sons audíveis são enormes, sendo a sua aplicação em outras áreas de conhecimento um campo, ainda, por desbravar.
Por: António Costa