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“Voyager 03” estaciona em Viseu

Cinquenta jovens criadores mostram a sua arte no atrelado de um camião TIR

A arte moderna está na rua em Viseu, mais propriamente no mutante e provocador atrelado de um camião TIR estacionado na Praça da República até dia 24. A exposição multidisciplinar “Voyager 03”, inaugurada no último domingo, apresenta os trabalhos de mais de 50 jovens criadores portugueses com instalações de música, “sound design” e intervenções artísticas que convivem com contribuições provenientes da arquitectura, do vídeo, do “design” de moda, do “design” industrial e do “design” gráfico. O projecto, criado para a ExperimentaDesign2003 – Bienal de Lisboa, já foi visto por 35.244 visitantes no âmbito de uma digressão nacional.

A “Voyager 03” foi desenhada para o grande público, norteada por um carácter de experimentação, exploração e contágio entre disciplinas, procurando, no fundo, criar uma imagem da cultura portuguesa contemporânea. Com todos os seus conteúdos inéditos, a vocação essencial da “Voyager” é a exposição no espaço urbano, mas também chamar a atenção do público para a criatividade portuguesa. É ainda um complexo exercício de “design” e uma operação de comunicação, uma vez que o primeiro conteúdo a descobrir nesta mostra singular é a própria “Voyager”, desenhada por Miguel Vieira Baptista. Os restantes resultam de convites a mais de 50 criadores portugueses inspirados no tema da terceira edição da Bienal “Para além do consumo”. No domínio da fotografia, Cátia Serrão, Daniel Malhão, Heitor Alvelos, Luís de Barros e Maria Bleck Soares apresentam leituras inesperadas e irónicas sobre a ideia de consumo, associadas ao “glamour” ou à abstracção da imagem fotográfica contemporânea. Na arquitectura – a área mais representada com 21 elementos – o desafio era conceber silos automóveis para o centro histórico. As maquetas resultantes propõem aos visitantes ideias inovadoras para a combinação de usos quotidianos da cidade. Refira-se que três destas propostas conceptuais deram origem a projectos que se encontram já em fase de desenvolvimento e execução pela Câmara de Lisboa e a EMEL no âmbito da construção de uma rede de silos-auto na capital.

Baltazar Torres e Joana Vasconcelos defendem as artes plásticas, com duas peças que interpelam o visitante no interior e exterior da “Voyager” a considerar os seus hábitos de consumo. No campo da música e do “sound design”, Rafael Toral, Ricardo Jacinto e Sam The Kid juntaram-se para completar a identidade deste ambiente único. Há ainda espaço para os novos projectos de “design” industrial desenvolvidos por Alfredo Häberli, Miguel Vieira Baptista, Nick Holland, Sebastian Bergne para o grupo empresarial Vista Alegre/Atlantis. Mas também para mais uns modelos da Designwise, uma marca, desenvolvida pela Experimenta, que edita objectos e produtos originais criados por “designers” portugueses. Catarina Nunes, Dasein, Fernando Brízio e Naulila Luís idealizaram e conceberam estas novidades. No domínio do “design” gráfico, é oferecido aos visitantes um “portfolio” engenhoso e imaginativo, elaborado por Benedita Feijó, Cesária Martins, João Vasconcelos, Nuno Luz e Tiago Machado. Em relação ao vídeo, há peças que interagem com a “pele” da “Voyager” mais uma selecção de vídeos que fizeram parte da programação da Bienal de Lisboa 2003. Uma área da responsabilidade de Rui Toscano, Sandro Aguilar (vídeo)/Rui Gato (banda sonora).

Alexandra Moura ocupa-se da moda e sugere vestuário unisexo, em cores primárias, onde o conforto e a desmultiplicação de bolsos/bolsas são centrais ao desenvolvimento do conceito. Este vestuário é utilizado pelos próprios assistentes da exposição, como mostra desta interacção. Finalmente, descobre-se uma instalação sonora de To Zé Ferreira e Houselab, a partir de “This is music, as it was expected”, composta em 1988 e ainda hoje reconhecida como uma das mais relevantes peças de música electrónica produzidas em Portugal. Neste caso, o compositor foi desafiado a remisturar esse tema e a trabalhar com o colectivo Houselab. O resultado é um espaço/cabine individual que potencia o “consumo” dessa peça como experiência física e multisensorial.

Luis Martins

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