Inesperado – e inabitual. José Sócrates reagiu à sua detenção, ao interrogatório e à prisão preventiva numa carta que ditou ao advogado a partir de uma cabine telefónica do estabelecimento prisional de Évora.
«As imputações que me são dirigidas são absurdas, injustas e infundamentadas», diz o ex-primeiro-ministro, citado pelo “Público” e pela TSF, que divulgaram hoje o conteúdo das palavras. São oito parágrafos. Sócrates afirma que, «em legítima defesa», vai «desmentir as falsidades lançadas» e «responsabilizar os que as engendraram» – e vai fazê-lo «conforme for entendendo».
«Este caso tem contornos políticos», refere. «A minha detenção para interrogatório foi um abuso e o espetáculo montado em torno dela uma infâmia», prossegue o antigo governante, que está acusado de corrupção, fraude fiscal e branqueamento de capitais. Sócrates fala em «humilhação gratuita» e considera «injustificada» a medida de coação determinada pelo juiz Carlos Alexandre – prisão preventiva.
«Este é um caso da justiça e é com a justiça democrática que será resolvido», continua José Sócrates, que pede para o PS não se envolver. «Este processo é comigo e só comigo. Qualquer envolvimento do Partido Socialista só me prejudicaria, prejudicaria o partido e prejudicaria a democracia».
O ex-secretário-geral do PS conta que, depois de «cinco dias “fora do mundo’», tomou «consciência de que, como é habitual, as imputações e as “circunstâncias” devidamente selecionadas contra mim pela acusação ocupam os jornais e as televisões». E critica a violação do segredo de justiça: «Essas “fugas” de informação são crime. Contra a justiça, é certo; mas também contra mim».
Depois, diz que não espera «que os jornais, a quem elas [as fugas de informação] aproveitam e ocupam, denunciem o crime e o quanto ele põe em causa os ditames da lealdade processual e os princípios do processo justo».
De seguida, refere-se ao «verdadeiro poder – [o] de prender e de libertar». Mas faz uma ressalva: «Não raro, a prepotência atraiçoa o prepotente».
Quase no fim, agradece as manifestações de apoio – esta quarta-feira, por exemplo, recebeu uma visita de Mário Soares. «Não tenho dúvidas que este caso tem também contornos políticos e sensibilizam-me as manifestações de solidariedade de tantos camaradas e amigos».
O último parágrafo é lacónico: «Este processo só agora começou».