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Voltar ao turismo

Editorial

1. É em tempo de crise que se exige mais imaginação e criatividade. Infelizmente, nem sempre convivemos com decisores cuja dinâmica passe por ideias diferenciadas, por inventar soluções, por imaginar receitas que marquem o nosso tempo…

O turismo foi durante muito tempo apresentado como o elixir para todos os males. E era ver como qualquer autarca neste país referia o turismo como a panaceia para enfrentar o futuro, para afirmar o seu concelho e para conquistar o mundo, fosse o presidente de uma câmara do litoral ou do mais recôndito interior, todos faziam alusão à indústria turística como a referência do desenvolvimento e do futuro do respetivo concelho. A falta de melhores expectativas ou ideias ou projetos encerravam qualquer outra possibilidade. Mas a verdade é que os anos passam e, depois de muitos milhões recebidos em financiamentos (subsídios), a verdade é que os turistas continuam a não incluir o interior nas suas rotas de férias. E é evidente que assim seja. O turismo de massas passa pela praia, pelo mar, pela costa e pelas grandes cidades, onde a oferta variada assegura a chegada de milhares. Uma reduzida percentagem aprecia outros argumentos e opta por outros destinos. E são estes que o interior tem de designar como os “alvos” em toda a sua dinâmica: da promoção ao saber acolher.

Doravante, a concorrência inter-regional na conquista de forasteiros será cada vez mais elevada. Por isso, a diferenciação é determinante. Mas também a sagaz forma de planificar e implementar uma estratégia, um plano de comunicação, uma dinâmica de sucesso. Não basta ter hotelaria qualificada e bons profissionais, é necessário ter argumentos e saber apresentá-los para satisfação do visitante.

Se a luz, o sol, encanta os nórdicos quando chegam a Portugal, o ambiente, a gastronomia e a cultura são a nossa “praia” para quem nos visita. E é isto que temos de saber promover e é isto que temos de saber apresentar: com qualidade e glamour.

2. A possibilidade de Frank Gehry, o mais emblemático arquiteto do mundo, vir a desenhar a futura Sinagoga de Belmonte, é uma notícia extraordinária. Frank Gehry é judeu e está a projetar um hotel para a Quinta da Bica (nos limites entre o concelho da Guarda e de Belmonte) e poderá também vir a aceitar projetar a “sua” primeira sinagoga. Ora, se assim for, não tenhamos dúvida, a região será não apenas um destino obrigatório para os turistas judeus (há cerca de milhão e meio de turistas judeus pela Europa), mas será também um destino regular para muitos outros viajantes.

3. A dimensão cultural como contributo para o desenvolvimento da região poderá ser enorme. Para além do que atrás fica dito, as rotas de património que devem ser devidamente catalogadas, promovidas e enquadradas em rotas de viagem são de uma diversidade e riqueza ímpar, mas que tardam em ser exploradas: a rota dos castelos da Raia, a rota das fortalezas militares, a rota dos monumentos medievais em ambiente rural… E ainda, o Património Mundial do Vale do Côa e o do Alto Douro Vinhateiro. E o Museu do Côa. E Teatro Municipal da Guarda. São de facto muitos e variados os argumentos para atrair um turista de um nicho de rendimento alto, disponibilidade de tempo e vontade de conhecer.

Luis Baptista-Martins

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