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Vítor Baía, o homem do tempo

«Vai nevar na Guarda?» é a pergunta a que o guardense mais responde na página do Facebook “Meteorologia Serra da Estrela”, que contava anteontem com mais de 5.800 seguidores.

Vítor Baía, de 55 anos, “rendeu-se” às redes sociais há cerca de quatro meses e já tem milhares de seguidores. O número não para de aumentar e o instrutor de parapente tem hoje ao seu dispor meios mais práticos do que no início da “aventura” da meteorologia, quando dava informações por telefone.

Desde 1996 que o guardense estuda de forma autodidata – e mais profissional – o tempo. Primeiro comprou um computador e ligou-se à Internet para aceder a várias fontes de informação meteorológica. Envolvido num desporto dependente de várias condições atmosféricas, nomeadamente do vento, as previsões mais específicas ajudaram então o parapentista na organização de diversas atividades. Em 2000, iniciou a parceria com o alpinista João Garcia, que, com a ajuda de Vítor Baía, chegou ao pico do Aconcágua (Argentina). Também as previsões para os alpinistas dos Himalaias e de outras montanhas do mundo são bastante frequentes: «São algumas dezenas, nomeadamente espanhóis, equatorianos. O pessoal da América Latina é quase todo meu cliente», refere.

Posteriormente, para acabar com o «desassossego» dos telefonemas, o guardense começou a publicar as previsões num site do Clube Vertical e agora está nas redes sociais, chegando a mais pessoas. O próximo passo será criar o site “Meteorologia Serra da Estrela”: «Acho que faz falta à Serra», defende Vítor Baía, que recusa comparações com o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), mas diz-se satisfeito por os seguidores acreditarem nele: «Dá-me a responsabilidade de continuar a fazer o trabalho como faço», considera Vítor Baía, que também tem as suas previsões no site bombeiros.pt.

«O meu maior crítico sou eu»

O erro faz parte do “jogo” e, por vezes, o meteorologista amador tem de aceitar o papel de «mentiroso». Isto porque alterações nos últimos momentos podem condicionar as previsões anteriores, como sucedeu com a queda de neve prevista para a Guarda há quase três semanas: «Quando anunciei que iria nevar, o instrumento que uso, o Tefigrama, não foi o mesmo que tive no próprio dia», justifica Vítor Baía, reiterando que «um grau faz a diferença entre um grande nevão e não nevar nada». O autodidata não esconde as dúvidas dos seguidores, ainda que acerte cerca de 90 por cento das vezes: «Os novos modelos matemáticos de previsão são muito bons», adianta, ressalvando que «o meu maior crítico sou eu». Contudo, deixa um aviso: «Temos milhares de estações meteorológicas em Portugal mas imensas dificuldades em consultá-las, pois as do IPMA estão sem pilhas ou sem eletricidade e não funcionam. Logo, não servem para nada», lamenta.

O instrutor de parapente e ex-selecionador nacional dedica, pelo menos, duas horas por dia à meteorologia: «As previsões atualizam de seis em seis horas, vejo-as quatro vezes por dia», explica. Já quando lançar o site deverá ocupar, de forma mais regular, oito horas diárias, pois «ninguém faz uma coisa bem se não se dedicar e eu gosto deste “stress”», confessa Vítor Baía, que conta «abrandar a atividade» de instrutor para se dedicar mais à organização e direção de provas de parapente.

Os seguidores

Daniel Rodrigues é um seguidor assíduo das previsões de Vítor Baía: «Acompanho mais do que uma vez por dia, pois acredito na sua previsão», sublinha o guardense, que confia no meteorologista há mais de três anos. «As coisas são mais certas na página dele do que na página do IPMA e é muito mais fiável, nomeadamente a cota de neve», considera. Também Joana Sousa acompanha a “Meteorologia Serra da Estrela” com regularidade, pois, «com o passar do tempo, percebi que são muito mais certas e na nossa zona são mais específicas», justifica. A estudante está atenta à página do Facebook mesmo quando não está na Guarda.

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Sara Quelhas O meteorologista trabalha com alpinistas de vários países

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