Cinquenta púcaros de barro e três burros é quanto baste para a Festa dos Púcaros, que todos os anos regressa à Vila do Carvalho (Covilhã) no primeiro domingo de agosto. Já se perdeu a conta aos anos desta tradição, mas julga-se que seja mais que centenária. Há 22 anos os Amigos Vila de Mouros, coletividade local, decidiram não deixar morrer «uma festa que faz parte de identidade de um povo», explicou o presidente da associação.
Dizem os mais antigos que a Festa dos Púcaros começou por ser religiosa, integrando as festas da padroeira da freguesia. Nessa altura a população colocava os púcaros ao longo das ruas para serem depois picados pelos habitantes que tinham cavalos e burros. Mais tarde, optou-se por separar as duas festas para que o picar dos púcaros coincidisse com a presença dos emigrantes na terra. Atualmente existe uma estrutura fixa onde os púcaros são pendurados e o objetivo é «recriar a mesma sensação», refere Ivo Garra. Os tempos também mudaram e hoje é a organização que arranja os burros para que todos possam participar. O objetivo é picar o púcaro para o partir, explica o dirigente. Jorge Mendes faz parte da direção da coletividade e foi um dos impulsionadores do regresso desta festa: «A tradição estava parada e nós continuámos, não quero que se perca», sublinha.
O carvalhense recorda-se quando a festa era organizada no centro da vila e garante que manter a tradição «dá muito trabalho, mas gosto muito disto e continuo a lutar. Espero que os jovens lhe deem continuidade». Ver a terra cheia de gente dá-lhe «muita alegria», diz Jorge Mendes, constatando que a atividade coincide agora com o regresso de muitos emigrantes, que também já não querem perder a tradição. É o caso de Elda Menino. Há duas décadas a viver em França, não passa um ano sem regressar à Vila do Carvalho e desta vez veio «de propósito da praia, no sábado, para poder assistir à festa». Já passou o gosto pela tradição às filhas, que «fazem questão de ser as primeiras a chegar à festa». Na sua opinião, este é uma oportunidade para reviver tradições da terra e «um ponto de encontro com aqueles que não vemos o ano inteiro».
A Festa dos Púcaros também já não deixa indiferente os mais jovens. Henrique Candeias tem 14 anos e desde sempre que se recorda de ir a esta romaria. Agora ele é um dos que tentam picar os púcaros e descreve o acontecimento como uma «tradição divertida da nossa terra». Também Rúben Leitão não perde um ano sem tentar a sua sorte. Com 15 anos, conta que os pais sempre o habituaram a vir «e agora mesmo que eles não viessem eu não deixava de estar cá». Depois de partido o púcaro nunca se sabe o que pode estar lá dentro, desde farinha, enlatados ou rebuçados. Mas nem sempre foi assim. «Antigamente tudo o que estava dentro do púcaro ficava para quem o picava, hoje em dia os bens alimentares ficam connosco ou são distribuídos por outras associações bem-feitoras da freguesia», afirma Ivo Garra. O recheio dos púcaros é da responsabilidade dos populares e noutros tempos houve quem colocasse dinheiro. Atualmente verifica-se outro fenómeno, pois os púcaros deste ano foram decorados pelos residentes, o que leva a associação Amigos Vila de Mouros a pensar na possibilidade de no próximo ano atribuir um prémio “ao púcaro mais vistoso», revelou o dirigente.
Ana Eugénia Inácio