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Vide acolhe primeiro centro de arte rupestre privado em Portugal

Projecto funciona numa escola primária recentemente desactivada

É o primeiro Centro de Interpretação de Arte Rupestre de iniciativa privada em Portugal e um dos poucos existentes em toda a Península Ibérica. A iniciativa nasceu em Vide, no concelho de Seia, na sequência do projecto arqueológico “Estudo das Manifestações de Arte Rupestre nos rios Ceira e Alva”, desenvolvido pela Associação Portuguesa de Investigação Arqueológica, e para o efeito foram disponibilizadas pela Junta de Freguesia local as antigas instalações de uma escola primária entretanto desactivada.

O ponto de partida deu-se no início de Agosto deste ano, com a inauguração de uma exposição temática sobre arte rupestre na zona do Ceira e do Alva. Numa fase menos adiantada está ainda outro centro de interpretação a criar na aldeia de Sobral de S. Miguel (Covilhã), referente a descobertas ligadas ao rio Zêzere. «Embora se tratem de temáticas e concelhos distintos, trabalharão em sinergia», adianta Nuno Ribeiro, coordenador do projecto e, em simultâneo, presidente da Associação Portuguesa de Investigação Arqueológica. Já foram definidas as linhas orientadoras para os próximos quatro anos de actividade. A par de visitas guiadas e exposições permanentes, pretende-se criar em Vide um espaço que não sirva apenas as preferências dos «eruditos, mas que possa cativar a população em geral». A valorização dos locais arqueológicos e a sua sinalização são outras das apostas, até porque «não existe nada naquela zona», assegura o responsável. Nesse sentido, uma equipa de dois arqueólogos e uma geóloga já está no terreno.

Para além da investigação, irão ser elaboradas brevemente cartas arqueológicas de levantamento rupestre e trabalho de campo. O problema é que, até ao momento, parece estar tudo «por fazer» neste domínio, adianta o coordenador, mesmo tratando-se de duas zonas de «enorme potencial» por disponibilizarem «uma das maiores concentrações a nível nacional de arte rupestre». Mas o trabalho não irá ficar apenas pela investigação. Outra das linhas a seguir tem a ver com a publicação de teses, a aposta em painéis explicativos e exposições fixas e variáveis, a promoção de ciclos de conferências, a realização de campus de investigação e a recriação de lugares de arte rupestre. Recorde-se que o Centro de Arte Rupestre de Vide aparece na sequência da descoberta de três núcleos relevantes e inéditos na região, nos locais de Fontes de Cid (gravuras datadas entre a Idade do Bronze Final e do Ferro), Ferraduras (Neolítico) e Carvalhinhos, Entre-Águas, (Neolítico/Calcolítico). As gravuras foram encontradas no Verão de 2002 por um grupo de arqueólogos do Centro Nacional de Arte Rupestre e são exemplos de feição pré e proto-histórica nunca antes estudados. É agora tarefa do centro assegurar o tratamento e a divulgação destes e de outros núcleos de gravuras rupestres que venham a ser revelados na região serrana.

Rosa Ramos

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