Arquivo

Manuel Alegre contra a «democracia do caciquismo»

Foi o primeiro candidato à Presidência da República a passar pela Guarda

Na cidade fundada há 806 anos por D. Sancho I, Manuel Alegre evocou o rei Povoador para alertar para a necessidade de um «novo repovoamento» do interior. «Não se está a conseguir fixar as populações por causa do insucesso escolar e da falta de postos de trabalho. Apesar dos discursos, o país está a concentrar-se cada vez mais no litoral, deixando o Portugal das raízes históricas praticamente deserto», disse, durante a inauguração da sua sede de campanha, na Praça Velha, na última sexta-feira.

O candidato teve uma boa recepção e participou num jantar com inúmeros apoiantes, alguns dos quais militantes socialistas activos. Um apoio popular que Manuel Alegre considerou ser o embrião de um novo facto na política nacional, o surgir de uma «iniciativa cívica e de voluntariado político». Nesse sentido, lembrou que a sua candidatura é apoiada apenas «por cidadãos e não por partidos», que disse não «esgotarem a democracia» e acusou de estarem actualmente minados pelo «carreirismo» dos seus dirigentes. Na exígua sala da antiga sede da Cruz Vermelha, o poeta/deputado também não viu ninguém «arregimentado em camionetas», mas falou do medo confessado por alguns apoiantes de perderem «empregos ou carreiras», antes de dizer que «não foi por esta democracia do caciquismo que se fez o 25 de Abril». Manuel Alegre sublinhou depois que se candidata «pela portugalidade» e contra os interesses instalados: «O Estado não é propriedade de ninguém», garantiu, insistindo que é necessário restabelecer a confiança nos políticos e na política. Por outro lado, considera que o Presidente da República deve «lutar contra os défices social, de igualdade, cultura e educação» existentes na sociedade portuguesa.

Mas também um «provedor da democracia». Falou depois das suas prioridades, como a igualdade entre homens e mulheres, a juventude e o desemprego, para atacar Cavaco Silva. Sobre Mário Soares nem uma palavra. O candidato apoiado pela Direita foi acusado de querer ser o «comandante supremo do regime», pelo que Manuel Alegre exigiu que o ex-primeiro ministro esclareça o conceito de «cooperação estratégica» que propôs para o relacionamento entre o Presidente e o Governo. «Não sei o que é isso, mas receio que venhamos a ter um problema na nossa vida democrática», disse, sem esquecer que foi Cavaco quem «desencantou» as forças de bloqueio. «Eu não aspiro a ser Governador do Governo, nem a chefe da oposição», esclareceu, por sua vez, considerando o professor o seu principal adversário. «Estou a lutar para que ele não ganhe à primeira, portanto, se eu for à segunda volta, o meu adversário é Cavaco», sustentou. Nesse cenário, Alegre não tem dúvidas que «os socialistas votarão em mim».

Luis Martins

Sobre o autor

Leave a Reply