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Verniz estalado entre Câmara de Celorico e a Associação de Atletismo da Guarda

Em causa está a provável não realização de um estágio de Verão de atletismo, no âmbito do Interreg

A bronca rebentou entre a Associação de Atletismo da Guarda (AAG) e a Câmara de Celorico da Beira. Em causa está a provável não realização de um estágio de Verão de atletismo para jovens no âmbito do programa de cooperação transfronteiriça Portugal/Espanha, Interreg III A, onde são interlocutores os municípios do Fundão e de Celorico da Beira, bem como a Junta de Castilla y Leon. A autarquia celoricense quer que a maior parte das actividades programadas decorram na vila, mas a AAG diz que o Estádio Municipal de Celorico não oferece as condições necessárias para acolher o encontro.

Para além da AAG, o estágio, a realizar de 18 a 25 de Julho, incluiria ainda atletas da Associação de Atletismo de Castelo Branco e da Federação Territorial de Atletismo de Castilla y Leon, num total de 70 pessoas. Em conferência de imprensa, a direcção da AAG acusou o município de Celorico da Beira de ter cancelado o estágio de Verão. À autarquia de Celorico caberia suportar 30 por cento do custo total da actividade, orçada em 16.500 euros. Numa reunião, a 4 de Abril, para agendar a programação do estágio «agora cancelado», a AAG informou o representante da edilidade que a realização da actividade envolveria uma componente técnica, «para a qual o concelho de Celorico não tinha condições», ficando a organização da parte técnica a cargo da associação e a parte lúdica da Câmara. A 27 do mesmo mês foi indicado ao município que se «tornaria necessário a aquisição de diverso material, caso insistissem na realização das actividades técnicas em Celorico, o que nós discordávamos em virtude de não haver as condições mínimas», sendo então proposto que a parte técnica se realizasse no Estádio Municipal da Guarda, o que «implicaria tão só a deslocação por autocarro».

No entanto, «depois de todas as diligências efectuadas somos confrontados com o cancelamento, puro e simples, da actividade por parte do município de Celorico da Beira, alegando falta de condições». Agastados com a situação, os representantes da AAG consideram a atitude da autarquia «desprestigiante para a imagem não só da própria entidade», mas também da AAG, AACB e do próprio país. «Portugal sai mal representado nesta história», acusa Manuel Neca, presidente da AAG. Já o director técnico da instituição, António Fragoso garante que os espanhóis vão «exigir o cumprimento do protocolo, caso contrário quererão ser ressarcidos das despesas do encontro do ano passado e vão também comunicar o caso à União Europeia». De resto, as «exigências técnicas» ficam a dever-se ao facto das associações terem alguns campeões nacionais entre os diversos escalões. «Não estamos a brincar ao atletismo. São atletas de topo nas camadas jovens», avisa. Neste sentido, a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Centro (CCDRC) «já foi informada do que se passou».

Imaginação e boa vontade dos técnicos

Confrontado com as acusações dos responsáveis da AAG, Armando Neves, vice-presidente da Câmara de Celorico, assegura que a «actividade não foi cancelada formalmente», pois para isso teria que ter sido primeiro comunicado «oficialmente ao “chefe de fila”, que é a Câmara do Fundão», indica. Contudo, dadas as exigências da AAG, «algumas que não estavam inicialmente previstas como gabinetes médicos e de fisioterapeutas», o município informou que a actividade ficaria «sem efeito». Por outro lado, garante que a autarquia «sempre se manifestou disponível para realizar o estágio desde que grande parte das actividades fossem realizadas em Celorico», adianta. É que com «alguma imaginação e boa vontade dos técnicos conseguir-se-ia ter condições» para realizar o estágio em Celorico, até porque algum do material solicitado poderia ser «emprestado» pela Câmara da Guarda, revela. Por outro lado, o autarca salienta tratar-se de atletas com 13 e 14 anos que vêm treinar. «Não é nenhuma actividade olímpica e estaríamos a negar aos nossos jovens a possibilidade de assistir a este evento», acrescenta, admitindo que da maneira que a AAG programou o estágio, os jovens «viriam cá apenas às piscinas e ao cinema», diz. Armando Neves vai ainda mais longe nas críticas ao acusar o director técnico da AAG de estar «mais interessado em ter um hotel e uma pista de cinco estrelas do que em divulgar o atletismo na região». No entanto, o assunto ainda será analisado na reunião de Câmara da próxima segunda-feira, garantindo que «não fomos nós que rompemos o canal de comunicação».

Ricardo Cordeiro

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