Definitivamente o Verão é a pior época do ano para qualquer cinéfilo (como já aqui foi repetido várias vezes nas últimas semanas), pelo que não será ainda desta vez que voltarei a falar de filmes em exibição numa sala de cinema (o regresso fica prometido para a próxima semana). Basta uma espreitadela rápida no cartaz de filmes actualmente em exibição para que a vontade de sair de casa para ver um filme desapareça por completo. As visitas ao clube de vídeo começam assim a transformar-se em ritual, com a sala cá de casa a fazer as vezes de cinema. As pipocas e conversas alheias ficam de fora deste cenário, o leque de filmes a escolher é bem mais vasto e tudo por um preço bem mais convidativo. Pena o ecrã não permitir assistir ao filme como quem assiste a um jogo de ténis, mas, como sempre nos fizeram crer, na vida não se pode ter tudo.
Para hoje, dois filmes bem distintos, e que há já algum tempo repousam nas prateleiras de qualquer clube de vídeo. Uma das desvantagens em ver uma grande quantidade de filmes em sala, antes da chegada do Verão, são as filas intermináveis de filmes já vistos. Bons muitos deles, mas, já vistos. E quando a vontade por algo novo se sobrepõe ao desejo (seguro) de repetir o visionamento de algo que sabemos bom, por algo que há uns meses atrás rejeitámos aquando da sua passagem pelas salas de cinema, só podem acontecer duas coisas. Ou nos arrependemos de, na altura, não termos dado oportunidade ao filme agora visto. Ou, como acontece na maioria das vezes, tentamos apenas perceber os motivos que nos levaram a não ter continuado a ignorar o dito cujo. Mas quando a oferta se reduz a meia dúzia de novos títulos, e o vício cinéfilo se faz sentir, há que arriscar.
Com expectativas tão baixas, à partida um filme como «The Gathering – Encontros Fatídicos» (na foto), tinha tudo para que, no final, nada mais restasse que um suspiro de «já sabia». Mas, com alguma surpresa, este filme que conta com a presença de Christina Ricci, consegue, sem pretensiosismos, atingir todos os seus objectivos. Mistério, arrepios e um ponto de partida suficientemente interessante para manter qualquer um preso até ao fim. Algures entre «Sexto Sentido» e «Os Outros», este é um filme menor nesse campeonato, dos filmes que poderiam ter sido apenas mais um episódio de «Twilight Zone». Mas menor aqui apenas não passa de um reflexo da grandeza dos alvos de comparação. O filme de Brian Gilbert consegue mesmo alguns refrescantes arrepios de espinha. Para noites quentes, de janela aberta, e muitos olhares assustados em volta.
E numa altura em que «Spiderman 2» faz estragos um pouco por todas as bilheteiras por onde passa, sem que Portugal seja diferente, uma oportunidade para outro super-herói. Quando Ang Lee (esse de «Ice Storm» e «O Tigre e o Dragão») foi o escolhido para realizar a passagem de Hulk ao cinema, não foram poucos os que duvidaram de tal escolha. Duvido que tal número se mantenha. Arrisco mesmo a dizer que, desde os filmes de Tim Burton para Batman, que nenhum realizador trazia nada de tão novo na adaptação de um super-herói para a grande tela, como Ang Lee com este «Hulk». Sem medo de arriscar, Lee consegue transportar, e transformar, para o cinema, toda a linguagem presente nos comics, como nunca ninguém até hoje tinha feito. E se tal já seria suficiente para justificar o seu valor, não é de menor importância a profundidade das personagens, aqui não apenas figuras planas, sem nada que as distinga. Para quem tenha até agora perdido este filme, é urgente descobri-lo. O facto de um monstro verde andar por ali acaba apenas por ser um pormenor. Grande, mas um pormenor. A ver, sem receios.
Por: Hugo Sousa
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