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Vencer o medo e a barbárie

Editorial

O terror voltou a assolar a Europa. Desta vez, naquela que foi adotada como a capital da União e coração de uma civilização moderada, tolerante e solidária. Uma civilização onde o terror vai espalhando o medo; onde o medo vai sendo regado com sangue.

Os terroristas são assassinos. Assassinos que matam quem passa. Que matam os homens e as mulheres que vão para o trabalho; que matam as crianças que vão para a escola; que matam sem olhar a quem; que matam sem razão; que matam sem olhar para as suas vítimas. Matam pelo prazer de matar. Matam para impressionar e exibir uma força cobarde. Matam para assustar. Matam porque odeiam a liberdade, odeiam a prosperidade ocidental, odeiam os que gostam de viver.

O terror mata-nos: mata a nossa liberdade, mata a livre circulação, mata o cosmopolitismo, mata a solidariedade entre povos, mata a integração dos diferentes… só o medo e a intolerância florescem por entre o ódio que vai sendo semeado pelos terroristas.

O Ocidente, este nosso ocidente, dos valores herdados da Revolução francesa, da Fraternidade, da Igualdade, da Solidariedade, onde o humanismo continua a iluminar os homens; o Ocidente, tantas vezes criticado pelos ocidentais, vive hoje em pânico. E mesmo quando não queremos dobrar perante a forma vil e traidora com que os terroristas perpetram os seus ataques, somos forçados a reconhecer que a liberdade, e em especial a liberdade de movimentos, vai ficando condicionada. Podemos gritar que não temos medo, mas é um grito de dor, um grito impresso com sangue e lágrimas.

Bruxelas é aqui, como Paris é aqui, como a Europa é aqui. E é aqui que estamos dispostos a reagir e a clamar contra o medo e contra os violentos. Mesmo sabendo que eles nos vão continuar a atacar. Porque esta será uma guerra longa, difícil e contra um inimigo traiçoeiro que se esconde na casa ao lado.

Os radicais sabem que assustando os europeus, serão os que fogem do horror na Síria ou no Iraque quem mais vai sofrer; sabem que os refugiados já abandonados à sua sorte serão isolados e sacrificados; sabem que os movimentos xenófobos irão crescer e contribuir para a instabilidade geral; se o medo vencer, “vencem os maus”, os que matam indiscriminadamente.

Em momentos como estes, mesmo os que estamos longe, mas tão perto, não podemos dar aos terroristas a alegria de vivermos com medo; não podemos odiá-los como eles nos odeiam, porque odiá-los é sermos como eles.

Em momentos assim é quando percebemos como os valores ocidentais fazem a diferença, a diferença entre a barbárie e a civilização, entre uma sociedade desenvolvida, democrática e solidária e o arcaísmo de uma sociedade onde não se respeita a vida. Em momentos assim é quando devemos mostrar os nossos valores, os valores ocidentais, da Solidariedade e da Fraternidade. A melhor homenagem que podemos prestar aos que perderam a vida em Bruxelas ou em Paris ou aos que, fugindo ao terror, perderam a vida na Turquia ou no Mediterrâneo é sermos solidários com quem precisa. É tempo de termos a coragem de ajudar os migrantes, os refugiados, os necessitados, os pobres e desamparados.

Luis Baptista-Martins

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