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Umas festas à maneira

Pois, Pois

Como é sabido, a principal função dos nossos governantes é infernizar a vida ao cidadão. Nas autarquias, regra geral, conseguem-no com o caos urbanístico, com a degradação do património, com obras intermináveis e incompreensíveis e com uma burocracia dantesca. Justiça seja feita, a Câmara da Guarda distingue-se, com louvor e por unanimidade, em todos estes parâmetros. E, para já, a coisa não dá sinais de se alterar com Joaquim Valente – mas deixemos essa análise para outra ocasião.

Chegado o verão, época em que se entra num, digamos, relativo pousio, os autarcas esmeram-se por descobrir novos métodos para levar a cabo a sua função. É aqui que entram as festas da cidade da Guarda. Eu explico.

Não é que eu tenha alguma coisa contra o, por assim dizer, evento. Não, nada disso. Bem pelo contrário. Acho mesmo que é preciso animar a malta. E a verdade, digam o que disserem, é que esta cidade tem um défice de animação durante o resto do ano. Não discuto sequer os méritos da programação, onde este ano pontifica o grande Tony, que é um daqueles casos em que posso afirmar: não conheço e não gosto. Mas o meu gosto não é para aqui chamado – também era o que mais faltava. Não me faz especial impressão o dinheiro gasto. Fala-se em 115 mil euros (a ser verdade, parece-me muito), mas não se fazem omeletes sem ovos. Não questiono também o modelo organizativo escolhido. Há por aí quem defenda que a empresa municipal CulturGuarda devia assumir também esta empreitada. Talvez, não sei. Não vou por aí. Confesso que já tenho mais dificuldades em perceber a exclusão da Associação Comercial deste processo, quando por esse país fora são as Associações Comerciais que organizam este tipo de festas, sozinhas ou em parceria com as autarquias. Por que motivo havemos nós de ser diferentes aqui na Guarda? Por acaso, somos especiais? Gostava de um dia conseguir perceber. A sério que gostava. Mas este também não é o momento para dúvidas existenciais.

Basicamente, o que eu critico são os locais escolhidos para as festividades. Mais concretamente, é-me absolutamente incompreensível que a Praça Velha não conste no roteiro das festas. O centro histórico está a morrer, os comerciantes estão à míngua e a Câmara, quando tinha uma oportunidade para lhes dar uma mãozinha, manda-os dar uma volta. Até parece de propósito, estilo vamos lá ver quem é que nós podemos lixar desta vez. E é então que alguém deve ter tido uma ideia luminosa: já sei, pomos as barracas da BeiraArtesanato do Nerga todas à volta do jardim José Lemos e ignoramos a praça e, assim, matamos dois coelhos duma cajadada, complicamos o trânsito e irritamos os comerciantes. Uma ideia brilhante, temos de convir, sobretudo se tivermos em conta a principal função de qualquer Câmara deste país: infernizar, sempre que possível, a vida das pessoas.

E ainda há quem diga que a Câmara da Guarda não faz nada. Francamente. Faz, faz, e de que maneira.

Por: José Carlos Alexandre

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