Arquivo

Uma Velinha à Santa Engrácia

Foi com agrado que vi começarem, salvo erro nos primeiros meses do ano passado, obras de repavimentação da minha rua. Não era das piores, aqui no bairro, mas já precisava. Havia buracos um pouco por todo o lado, nenhum deles especialmente grande, ou perigoso, mas era agradável ver a Câmara lembrar-se de nós.

Foi com surpresa que vi, passados poucos meses, máquinas rebentarem com o asfalto novo da minha rua e começarem a abrir valas em todo o seu comprimento. Valas cada vez maiores, ao ponto de ter de deixar o carro longe e ser obrigado, para entrar em casa, a penosos exercícios de contorcionismo por entre lama e pedaços do asfalto novo recentemente destruído

A explicação da obra, disseram-me, era a necessidade de substituir canalizações de distribuição de água. Para o facto de ser necessário pavimentar de novo uma rua (aliás várias, que aconteceu o mesmo noutras) recentemente pavimentada, e da razão de não terem aproveitado logo para substituírem as canalizações, ninguém me deu uma explicação cabal.

Passado algum tempo, bateram-me à porta: era preciso dar-lhes acesso à minha garagem porque iam precisar de fazer uma nova ligação de água, provisória, atendendo às obras nas condutas principais. Que dentro de pouco tempo ficaria tudo resolvido.

Um ano depois, continuo sem uma ligação definitiva e só há uma semana voltei a ter torneira de segurança. As obras continuam, a bom ritmo, mas certamente noutro lugar. Nas imediações da minha casa há pilhas de paralelepípedos à espera, porventura de melhores dias, para serem colocados no lugar.

É verdade que, mesmo que muitos meses depois, foi repavimentada de novo a rua (não sei se definitivamente) e que os arranjos prometidos vão melhorar bastante o bairro. Mas mesmo assim estou contrariado, como estão muitos dos meus vizinhos. Há a questão da água, e esta não é de somenos. De vez em quando é cortada e, quando isso acontece, a que está na canalização, incluindo os duzentos litros do painel solar, reflui para a rede pública deixando os canos cheios de ar. A água acaba por regressar, assim que a parte dos trabalhos que justificou o fecho esteja concluída (nunca está verdadeiramente), e quando chega aos canos empurra ar na sua frente, ar que depois de passar pelo contador, fazendo-o avançar e aumentando artificialmente a factura da água, vai ficar nalgum lado e, na prática, entupir os canos. Solução? Agora, que voltei ter torneira de segurança, tenho de a fechar, esgotar a água dos canos abrindo todas as torneiras, voltar a ligar a torneira de segurança e deixar correr água em todas as torneiras durante alguns minutos (mais uma receita extraordinária para a Câmara Municipal da Guarda). No fim, com alguma sorte não haverá ar nos canos e voltará a haver pressão que baste nas torneiras.

Moral da história? Perguntem à Santa Engrácia. Por mim, apenas isto: já não quero que a Câmara Municipal resolva os problemas de emprego e desenvolvimento da região, que lute pela construção do novo hospital ou exija do poder central a resolução dos muitos e variados e urgentes problemas que nos afligem: basta-me que cumpra bem, depressa e com o mínimo de incómodos e despesa aquilo que são as suas atribuições básicas.

Por: António Ferreira

Sobre o autor

Leave a Reply