(…) os que me conhecem sabem que não sou destas coisas… Mas chegou o meu momento de indignação e é preciso mostrá-la, já chega de ficar calado. Todos precisamos de nos indignar com o que estão a fazer ao povo português, um povo humilde, trabalhador e honrado.
É por sermos humildes e honrados que temos aguentado tudo o que nos fazem os políticos que nos governam desde o 25 de Abril de 1974, que nos têm roubado e têm feito de nós o que querem (…). Eles sabem que, mesmo com o que nos têm feito, vamos continuar a lutar por eles e, quando chegar o momento, vamos pegar nas suas bandeiras (…), esquecendo que são sempre os mesmos a alimentarem-se do nosso trabalho, dos nossos sacrifícios. E se correr mal, vão dizer que a culpa é nossa, que vivemos acima das nossas possibilidades…
Os que nos têm governado só se têm governado a eles, parece-me óbvio, mas então não estamos na Europa, não assinamos os acordos comunitários, não somos europeus?
Então, onde estavam as instituições europeias quando, com o seu dinheiro nós fazíamos rotundas, fontes luminosas, pavilhões multiusos, piscinas, campos de futebol? (…)
Não nos avisaram que vivíamos acima das nossas. Onde estava Durão Barroso? Onde estava Angela Merkel?
Onde estavam os alemães quando (…) lhes comprávamos VW, Mercedes-Benz, Porsche, Opel, Audi e BMW, ou eletrodomésticos Bosh, Siemens ou Grundig, ténis ADIDAS ou PUMA, ou ainda quando púnhamos NIVEA nas mãos cansadas. (…) Agora empobrecem-nos?
É preciso empobrecer brutalmente esta gente que andou a viver acima das suas possibilidades. Dizem?
Mas então este humilde povo merece isto? Merece que os que mais contribuíram para os enterrar os mandem agora empobrecer? Descer ao mais baixo da condição humana?
Nós errámos, quando lhes batíamos palmas nas inaugurações dos estádios das fontes luminosas, das rotundas…
(…) Mas será este o castigo que merecemos?
(…) O povo alemão está de acordo? Quer que a sua chanceler nos arrase economicamente como outros arrasam pela força das armas? Seremos nós os novos judeus deste sistema económico? O povo alemão quer isto, o povo alemão deixa fazer isto, como deixou Hitler fazer o que fez? (…) Acho que não… O povo alemão, não os seus líderes, vai ajudar-nos, vai perdoar-nos, pois na realidade não fomos nós, POVO, os culpados da situação a que chegámos, mas sim os nossos dirigentes, como nós sabemos que não foram eles, POVO Alemão, os culpados, mas sim os seus dirigentes.
(…).
* Título da responsabilidade da redação
Joaquim Miguel Gonçalves, carta recebida por email