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Uma jornada cultural em Lisboa

Opinião – Ovo de Colombo

Antes de partir para férias gostaria de deixar duas sugestões para uma jornada cultural em Lisboa. A primeira é a exposição “De Roma para Lisboa: um álbum para o Rei Magnânimo” patente no Museu de São Roque, que oferece ao público documentos iconográficos de diversas encomendas artísticas feitas em Itália para o rei D. João V. A peça central da mostra é o designado “Álbum Weale” (atualmente na Biblioteca da École Nationale Supérieure des Beaux-arts de Paris), compilação meticulosa realizada por diligência do último embaixador de D. João V em Roma. Nos mais de 101 desenhos, o Álbum desvenda algumas obras destinadas à Patriarcal, perdidas no tempo, e o conjunto de ourivesaria destinado à capela régia de S. João Baptista na igreja de São Roque.

Recorde-se que a igreja de São Roque, construída no século XVI, introduziu em Portugal o modelo da “igreja-salão” ensaiada por Vignola na igreja do Gesù de Roma, unindo assim, pela tipologia e simplicidade arquitetónicas, a casa mãe da Companhia de Jesus em Itália e em Portugal. O visitante poderá pois confrontar na exposição as fontes visuais das encomendas joaninas, complementadas com correspondência e cartas trocadas entre a capital portuguesa e a italiana, com as peças de ourivesaria e paramentaria do Museu e, naturalmente, com a própria capela de S. João Baptista (encimada pelas Armas Reais Portuguesas). A capela foi integralmente construída (1742-1747) e sagrada pelo Papa Bento XIV em Itália, sendo depois desmontada e enviada para Portugal. Obra de grande refinamento arquitetónico e decorativo, denota o esplendor do reinado de D. João V, em consonância com os valores político-ideológicos do Absolutismo.

A segunda sugestão vai para a exposição “Josefa de Óbidos e a invenção do barroco português” no Museu Nacional de Arte Antiga. Não apenas pela oportunidade de aceder a obras pertencentes a acervos internacionais e vários nacionais, incluindo particulares, mas especialmente para revisitar o legado de uma autora singular no panorama artístico nacional, cuja cultura, virtuosismo e atualidade foram extraordinários para o contexto político-social e espiritual do seu tempo.

E já estando em Lisboa, porque não uma visita ao Museu Nacional de Arte Contemporânea? A partir de 15 de julho poderá conhecer os novos espaços do MNAC, ampliado para a Rua Capelo, e visitar a exposição coletiva “Narrativa de uma Coleção – Arte Portuguesa na Coleção da Secretaria de Estado da Cultura (1960-1990)”.

Tânia Saraiva*

* Historiadora e crítica de arte. Professora universitária

Josefa de Óbidos, “Agnus Dei”, 1666-70, Museu de Évora

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