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Uma Fralda à Janela

Compreendo que se ponha uma fralda em todas as janelas, em protesto contra o possível encerramento da maternidade da Guarda. E não me admira nada que na Covilhã e em Castelo Branco façam o mesmo, contra o Governo ou contra nós.

Compreendo também que se opte pela ecológica e politicamente correcta fralda de pano, em detrimento das fraldas descartáveis. É este, em que nos movemos agora, o terreno do “simbólico”, do gesto, longe do devido tributo à dura realidade. Nesta, comparam-se preços nos hiper-mercados e aproveitam-se promoções. Mas seria de facto simpático regressar ao passado e reaproveitar as fraldas, devidamente limpas, com sabão azul, do cocó dos nossos meninos e meninas. Houvesse tempo, e coragem, para as lavar. E sabedoria para depois lhes embrulhar o rabo num rectângulo de linho ou algodão.

E houvesse tempo e, já agora, disposição, para fazer meninos e meninas. Diz-nos a estatística (Anuário Estatístico de Portugal, 2004, publicado pelo INE) que o índice sintético de fecundidade (número de nados vivos por mulher) na região centro, depois de baixar paulatinamente ao longo das últimas décadas, se cifra agora em 1,3. Diz-nos a razão que esse índice, para reflectir uma efectiva reposição de gerações, deveria ser um pouco acima de 2,0.

Aceito que é duro ver uma cidade esvaziar-se a pouco e pouco. Ver partir as jóias e os dedos sem contrapartida nenhuma. Mas o mais duro é tudo o que esse esvaziamento implica: que a cidade foi perdendo relevância; que deixaram de se justificar as mordomias que se julgavam adquiridas para sempre; que lá em cima se fazem contas e se concluiu que o rácio custo/benefício se tornou exorbitante e que se não justificam maternidades em sítios onde não nascem meninos e meninas. Seja na Guarda, na Covilhã ou em Castelo Branco.

Posto isto, é evidente que o encerramento de uma que seja das três maternidades é catastrófico para a nossa região. Imagino uma grávida de Almendra a entrar prematuramente em trabalho de parto e a ter de se dirigir à Covilhã, ou a Castelo Branco. Ou uma grávida de Silvares, ou de Vila Velha de Ródão, ter de vir à Guarda. Não será mais simples, para quem quer ter filhos, emigrar?

Uma solução? Simples, minha cara leitora, há que aumentar urgentemente o número de partos em cada uma das maternidades. De tal maneira que seja impossível pensar sequer em fechar alguma delas. Se você está em idade fértil, se tem apenas um filho, ou nenhum, se tem marido ou namorado (se não tem deixe de se armar em difícil), tem obrigação de ajudar a maternidade da Guarda (ou a da Covilhã, ou a de Castelo Branco). Apague a televisão, ponha aquele vestido, compre umas velas perfumadas, faça aquele prato de que ele gosta, ponha aquela música “na vitrola” e deixe a natureza fazer o resto.

Sugestões

Um livro: Kama Sutra. Tantas posições, embora acessíveis, muitas delas, apenas aos acrobatas. Que se mantenha como uma simples possibilidade nos jogos da imaginação. Valha-nos entretanto a inata sabedoria que temos para ajeitar os nossos corpos confortavelmente.

Uma canção: The Ground Beneath Her Feat (U2, The Million Dollar Hotel, Wim Wenders). Por exemplo.

Um prato: Sushi de salmão com abacate. Deveria acompanhar com Sake (e sal), mas um bom vinho é aceitável também. Não poupe no wasabi, que a imaginação encontra sempre soluções doces para problemas picantes.

Por: António Ferreira

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