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Uma flor nas cinzas

Junho de 2017

Os incêndios de Pedrógão Grande são os primeiros desta ordem de grandeza a acontecer ainda na Primavera.

Pedrógão foi tragédia, mas era também exemplo, era aviso. Mais dia, menos dia, em condições climatéricas excecionais, com altas temperaturas e seca prolongada, a vegetação em grau extremo de secura, perfil de humidade baixíssimo, atmosfera instável, com territórios cada vez mais despovoadas, todo Portugal podia ser Pedrógão.

Foi-o, ia o Outono já adiantado, em 15 e 16 de outubro. Eu estava lá e vivi em Gouveia uma noite de inferno que nenhuma palavra consegue descrever com realismo e verdade. A velocidade a que as chamas desciam a encosta da Serra, as projeções gigantescas, a altura das labaredas, nenhuma força da Proteção Civil, nenhum corpo de bombeiros, conseguiria travar a cabeça do incêndio e evitar as suas consequências. Tudo isto já dentro da zona urbana da cidade e na freguesia das Aldeias, na zona industrial, em toda a área serrana do concelho, de Paços da Serra a Folgosinho. Este cenário de catástrofe repetia-se, dramaticamente, em todo o vale do Mondego, na zona montanhosa entre a Estrela e o Caramulo, no Alto Distrito de Coimbra. O número de mortos não parava de aumentar.

O drama do nosso mundo rural assume agora um valor absoluto. Numa situação de crise como esta existem dois planos. Desde logo na opinião publicada, o papel de muitos profissionais da desgraça, sempre desejosos de fazer sangue, com frases inflamadas de quem tem a ambição de marcar o tempo da história. Depois há a decisão fria, rigorosa, competente, à altura da responsabilidade e do momento. Esse é o tempo do atual Governo, é o destino do senhor Presidente da República. O Primeiro-Ministro sabe bem disso. Aliás, não há ninguém em Portugal que conheça melhor o que falhou.

Mas compete também ao PS estar à altura deste tempo. Ao seu grupo parlamentar cabe a mobilização necessária para encontrar os apoios certos a uma mudança profunda das prioridades que o país reclama. Passa por nós, deputados, o reforço das relações de confiança com as populações, com as comunidades mais isoladas e frágeis. Ao PS cumpre agora também apoiar, como nunca, o Governo. Nós não estamos aqui para acertar pequenas contas ou encontrar culpados. Fazer dos incêndios e das suas consequências arma de arremesso político é próprio de atores menores da nossa democracia. É esse o significado da moção de censura do CDS-PP. Nós estamos aqui para assumir uma visão de sociedade e uma obrigação indeclinável perante o país: SERVIR PORTUGAL.

Gonçalo é, seguramente, o berço da cestaria fina portuguesa. A grande maioria dos cesteiros, em qualquer ponto de Portugal, tem as suas raízes nesta vila do concelho da Guarda. O país mudou e os cesteiros de Gonçalo precisam de repensar novas formas de escoamento da sua produção e de preservar a marca autêntica da sua arte.

É com esse objetivo que apresentámos, na Assembleia da República, em colaboração com as gentes de Gonçalo, um Projeto de Resolução para a Promoção e Valorização da Cestaria de Gonçalo, para que seja para sempre arte e cultura popular, trabalho de muita gente. Tudo faremos para que esta iniciativa represente esperança e vida, qual flor a brotar neste deserto de cinza.

Por: Santinho Pacheco

* Deputado do PS na Assembleia da República eleito pelo círculo da Guarda

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