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Uma espécie de balanço

Atmosféra Portátil

Estamos em 2009. Em cada final ou início de ano, é inevitável fazerem-se balanços, retrospectivas, análise do passado e projecções do futuro. O que correu bem, o que correu mal, o que correu assim-assim. E há opiniões para todos os gostos e tendências. Uns mais optimistas, outros mais pessimistas. De economia nem apetece falar. A crise financeira grassou as bolsas da maioria dos portugueses. Não há alma lusa que resista a tamanho processo de definhamento do poder de compra. Por outro lado, o funcionamento do mercado bolsista e as jogadas dos grandes grupos económicos para se aniquilarem mutuamente são assuntos que me causam, no mínimo, uma notória indiferença. Por isso, quando se trata de balanços e retrospectivas, agrada-me muito mais olhar para o campo da produção cultural.

As escolhas do ano são sempre escolhas pessoais. Não sei se são as melhores, mas são escolhas que gostei de desfrutar ao longo do ano. Uma selecção pessoal e intransmissível. Nada mais. Mas há uma confissão a fazer: no fim de um ano de imensa produção cultural, a sensação com que fico é de uma certa frustração incómoda. Isto porque, depois das escolhas feitas, fico sempre com a nítida impressão de que ficaram muitas mais referências de fora que não tive oportunidade de conhecer. Muitos filmes que não vi, muitos discos que não ouvi, muitos livros que não li. A produção cultural é cada vez maior e torrencial a cada ano que passa. Só não sei se o consumo é proporcional à oferta. Em Portugal e no mundo. Milhares e milhares de objectos culturais são despejados para o mercado, quase indistintamente. Descortinar a qualidade no meio da quantidade é cada vez mais difícil e ingrato, facto que obriga o consumidor a estar cada vez mais atento e informado. O tempo é escasso para fruir (e usufruir) as propostas mais interessantes. Ainda há filmes, discos e livros que ainda não conheço mas que provavelmente entrariam para a lista de preferências que se seguem. Eis as minhas escolhas de 2008, contabilizando com o que conheci e não conheci:

Filmes: apesar de não ter visto “Corações” de Alain Resnais, “A Turma” de Laurent Cantet, “O Homem de Londres” de Béla Tarr, “Destruir Depois de Ler” de Ethan e Joel Coen, “A Ronda da Noite” de Peter Greenaway, “Antes que o Diabo Saiba que Morreste” de Sidney Lumet, “Fome” de Steve McQueen, “Em Bruges” de Martin McDonagh, “Austrália” de Baz Luhrmann, gostei de ver: “Este País Não é Para Velhos” de Ethan e Joel Coen, “Alexandra” de Sokurov, “4 Meses, 3 Semanas e 2 Dias” de Cristian Mungiu, “No Vale de Elah” de Paul Haggis, “Haverá Sangue” de Paul Thomas Anderson, “O Segredo de um Cuzcuz” de Kechiche, ou “O Lado Selvagem” de Sean Penn.

Discos: apesar de ainda não ter ouvido discos como Fleet Foxes, Beach House, Dirty Projectors, Bon Iver, Evan Parker, Hercules & Love Affair, Silver Jews, The Dodos, Fennesz, Cut Copy, Hot Chip, She and Him, gostei de ouvir: TV On The Radio, Leila, Portishead, Man Man, Camille, Tricky, Secret Chiefs 3, Devotchka, Nico Muhly ou Gang Gang Dance, Deolinda, A Naifa, Rocky Marsiano, Linda Martini, Mesa, Melech Mechaya, Mikado Lab, Gala Drop, The Vicious Five, Mão Morta ou Dead Combo.

Livros: Queria ter lido (espero ainda ler durante 2009): “Os Nus e os Mortos” de Norman Mailer, “Histórias de Amor” de Robert Wasler, “A Derrocada de Baliverna” de Dino Buzzati, “Contos Completos” de Truman Capote, “Correcção” de Thomas Bernhard, “Castelos Perigosos” de Céline, “Musicofilia” de Oliver Sacks, “O Jovem Estaline” de Simon Montefiore. Mas não deixei de ler: Le Clézio, Shlomo Venezia, David Lynch, Robert Musil, Slavoj Zizek, Paul Auster, António Victorino D’Almeida, Gonçalo M. Tavares ou Philip Roth.

Agora é esperar que 2009 entre em força com boas e novas propostas.

Por: Victor Afonso

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