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Uma certeza

Agora Digo Eu

Com a crise, houve uma redução drástica da sopa do convento. Alguns mais otimistas pensaram que a força das circunstâncias obrigaria os autarcas a aderir a um novo “paradigma” (desculpem lá o palavrão) de desenvolvimento. Um paradigma mais centrado no “imaterial”, no “intangível” e nas pessoas. Passada a fase das infraestruturas materiais, teria chegado a era do investimento privado, das incubadoras de startups, da inovação, emprego, tecnologia, desburocratização, serviços mais amigos do cidadão, etc. Tinha chegado, enfim, a hora de desmantelar o inferno burocrático edificado com zelo por muitos autarcas por esse país fora. Aliás, “infernizar” a vida às pessoas resume bem a principal função de muitas câmaras nas últimas décadas.

Hoje, verificamos com tristeza que estas aspirações, em muitos casos, não passaram de meras fantasias. Verdade que se tornou mais difícil a fundação de novas empresas municipais para aconchegar os bolsos da ladroagem local. Também já não é possível financiar o ócio de carradas e carradas de militantes como nos bons velhos tempos. Porém, mal a torneira dos fundos se abriu um bocadinho, logo irromperam os velhos vícios e práticas que nos arruinaram. Eis de volta as famosas reclassificações de terrenos, o embelezamento urbano com esculturas grotescas encomendadas, claro está, por ajuste direto – provavelmente, a amigos e familiares –, as grandes festas para animar a populaça, o “subsídio ou apoio” a órgãos de comunicação local para criarem o culto do “Sr. Presidente”.

Vendo bem, que outra coisa se podia esperar de autarcas formatados nos modelos anacrónicos e ultrapassados dos anos 80? A maioria deles, claramente, não sabe fazer de outra maneira. O problema é que, no fim do dia, quem se lixa são os concelhos que caem nas suas mãos. Como a experiência mostra, estes concelhos estão condenados a marcar passo ou a andar para trás, enquanto o povo se entretém com o movimento ilusório de festas, festinhas e festarolas, iguais em todo o lado e que, por isso, acrescentam pouco ou nada – como alguns ironizam, há hoje mais festas medievais do que na Idade Média.

Hoje, o êxito de um autarca mede-se pela capacidade em atrair pessoas. Há bons exemplos em Portugal que nos podem servir de inspiração. Algumas autarquias têm apostado em agências locais especializadas em atrair e acompanhar investidores que geram riqueza e emprego – a InvestBraga ou a InvestPorto são dois bons exemplos. Dir-me-ão que, na prática, tudo isto é mais difícil do que parece. Eu sei, eu sei. Mas também sei uma coisa: na Guarda, é possível fazer melhor do que aquilo que tem sido feito nos últimos anos. E sobre isso não tenho dúvidas nenhumas.

Declaração de interesses: fui o coordenador no programa da “Guarda em Primeiro” e sou o número quatro da lista de candidatos à Câmara Municipal da Guarda por esse movimento.

Por: José Carlos Alexandre

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