Aos poucos, os portugueses têm percebido que a banca é um caso extremo de uma economia de compadrio, um falso capitalismo em tudo semelhante ao que se passa na China. Em vez de termos um capitalismo de Estado, temos um capitalismo que se tornou dono do Estado e usa-o em favor dos seus interesses. Afinal, a banca não é o tal sector modelo que nos tem sido impingido por políticos como Cavaco Silva e “seus muchachos”.
A banca é um sector oportunista que tem acumulado lucros à custa do país e beneficiando de uma proteção corrupta por parte da classe política. Quando tem de pagar impostos, a banca apela aos políticos para que lhe criem um mecanismo que reduza a carga fiscal, quando quer ganhar mais juros abusa dos seus clientes e pede ao regulador que feche os olhos, quando não quer concorrência externa faz uma procissão a São Bento em defesa da manutenção em Portugal dos centros de decisão, quando mete o pé na argola em matéria fiscal faz um requerimento no “serviço de Finanças do Terreiro do Paço” e aparece um parecer e um despacho milagrosos que lhes concede o que pedem. Na Idade Média eram os banqueiros ricos que subsidiavam os Estados, tirando daí os dividendos e os necessários proveitos. Hoje, são os Estados que emprestam aos banqueiros. Pelo meio, quer num caso quer no outro, é sempre o contribuinte a pagar.
É um sistema de compadrio entre o poder e os falsos banqueiros, os políticos metem as namoradas e os amigos nos lugares decorativos da administração dos bancos, colocam os jotas nos balcões, os altos responsáveis do Estado empregam os filhos na imensidão de gabinetes da banca. Outrora, as atividades dos bancos eram conhecidas de todos. Os bancos recebiam depósitos e emprestavam-nos, pagando menos aos depositantes do que cobravam em juros por empréstimos de risco ou com pouca liquidez. O risco era suportado pelos banqueiros, e não pelos depositantes, nem pelo governo. Hoje em dia trata-se cada vez mais de emprestar quantias irresponsáveis a especuladores que as usam para atividades comercias de curto prazo. As crises financeiras aprofundaram-se e começaram a afetar camadas mais amplas da população à medida que a pirâmide da dívida disparou e que a qualidade do crédito se afundou até à categoria tóxica do “empréstimo trapaceiro”.
Os herdeiros dos velhos negreiros, das roças e donos das colónias encontraram uma boa forma de se adaptarem ao capitalismo, transpondo para o país velhos negócios de enriquecimento fácil.
Por: Jorge Noutel