Desde 2003 que as escavações arqueológicas levadas a cabo no sítio do Vale do Mouro, na Coriscada, concelho da Mêda, têm revelado verdadeiros tesouros.
As descobertas mais recentes dizem respeito a milhares de moedas dos séculos III e IV. Só em Agosto deste ano foram descobertas mais 400. Se a estes achados se juntar o bom estado de conservação de muitos edifícios (o que permite compreender em detalhe o funcionamento deste complexo), pode concluir-se que a importância do sítio arqueológico é enorme. De tal forma que Jorge Alarcão, um dos maiores especialistas no período romano em Portugal, já admitiu aos arqueólogos que tenciona corrigir as suas teses.
Vale do Mouro é, sem dúvida, um tesouro do passado e uma fonte de importantes descobertas.
Até agora, os achados ligadas à passagem dos romanos pelo interior de Portugal sugeriam que esta era uma região de parcos recursos. No entanto, a casa senhorial onde se descobriu um mosaico de grandes dimensões, os fornos, os lagares, as fundições e as cerca de cinco mil moedas achadas desde 2006 «contrariam a ideia de um Portugal romano pobre nesta região» e sugerem mesmo que se trataria de um território com alguma riqueza, segundo refere o arqueólogo Sá Coixão. As minas de estanho, a agricultura e, em particular, a vitivinicultura – uma actividade que ainda hoje predomina na zona – são pistas que têm guiado o arqueólogo na defesa desta tese.
Outra ideia que cai por terra é a de que esta zona só tenha sido ocupada pelos romanos a partir do século III – em Junho deste ano foram descobertas peças de cerâmica do século I.
Ainda há muito por descobrir em Vale do Mouro
Os trabalhos no local já vão na quinta campanha – terceira consecutiva – e têm reunido vários arqueólogos e mais de duas dezenas de estudantes das universidades do Porto e de Lyon (França).
Há dois anos foi descoberto um painel policromado de minúsculos mosaicos, achado que está a ser restaurado no Museu Monográfico de Conímbriga. «Este mosaico surpreendeu pelas suas dimensões, pois no Interior só havia sido descoberto um outro mais pequeno, em Pinhel», refere Sá Coixão. O arqueólogo garante que, no nosso país, há outros sítios importantes, «mesmo no âmbito das villas palacianas, mas este está praticamente completo, com as casas, os fornos e os lagares. Será talvez o primeiro local com todos os registos pormenorizados». Por agora, os investigadores dedicam-se ao século II, de forma a provarem que houve uma ocupação contínua dos romanos até à Alta Idade Média. Este ano já tinham sido descobertos objectos com sete mil anos, em sílex e quartzo. Sinal de que existirão cabanas do Neolítico na zona, pelo que será necessário envolver outra equipa, perita nesse período. O próximo passo será a escavação das dependências da casa senhorial que tem sido o centro das atenções dos especialistas. Em direcção a Oriente, os profissionais vão procurar uma zona de ferreiros onde esperam «encontrar várias casas dependentes deste palácio».
Os arqueólogos querem ter a maior parte dos achados a descoberto até Setembro de 2009, devendo, entretanto, dar início aos restauros. Nesta fase, os trabalhos são financiados pela Câmara da Mêda e pelo Instituto Português de Arqueologia. Face à dinâmica arqueológica desta região – com o Vale do Mouro, Marialva, as gravuras do Côa e a torre de Almofala –, Sá Coixão sugere mesmo a criação de um circuito nos concelhos de Figueira de Castelo Rodrigo, Mêda, Pinhel e Vila Nova de Foz Côa. Até lá, o arqueólogo garante que «ainda há muito por descobrir» em Vale do Mouro, pelo que os trabalhos deverão ser candidatados aos fundos que a União Europeia disponibiliza para esta área.