Arquivo

Um tormento impressionante

Bilhete Postal

Acordo sob um estrondo ali próximo. Acordo com aquela sensação de um ruído que me interrompeu o sono. Ladrões? Levanto-me e vou à janela. Nada. Saio do quarto e percorro os quartos dos meninos. Chamamos-lhes meninos já depois de terem carro. Vou à sala e não há mais ruídos. Nada. Um silêncio que só se escuta de noite. Sigo para a cozinha à procura de uma janela aberta, um jarro caído. Na cozinha nada. A casa tem aquela escadas no centro do hall e trepo-as a galope em busca de novas surpresas. Nada. Afinal, aquilo foi um som no sonho ou algo que o interrompeu? Recordo que dormia e despertei de rompante. Recordo um bater potente, como que uma porta a abrir-se com um pontapé. Claro, porque não fui primeiro à porta? Vou. Nada. Estarei doido? Volto à janela e pesquiso os bares das redondezas, talvez um grito uníssono de golo? São três da madrugada, já não há futebol. Olho os carros da rua para lhes ver os vidros. Não há vidros quebrados e não há movimentos estranhos. Porra, que foi isto? Afinal estou a dormir, acordo num tormento, e nada? A porta chama-me de novo. Pego num pau e percorro as quartos. Agora olho por debaixo das camas e nos armários. Isto é coisa de ladrão. Abriram a porta e escorregou-lhes da mão. Falo alto. Andas aí ladrãozeco de caca? Ninguém responde. A adrenalina sobe-me aos braços. Nem janelas, nem portas, nem movimentos nenhuns. Mas noto a inquietação. Sinto-me o homem que protege o seu território. Um fio de medo aconchega-se no períneo e seguro mais forte o pau. Tenho-o na gaveta da roupa para esta ocasião. As luzes acesas agora permitem-me ver tudo. Um dos meninos desperta também. Que é pai? Deixa-te estar na cama que o pai procura. Nada, nem criança na cama nem serenidade na cabeça e o estrondo na memória. De repente Bang, outro estrondo brutal e a criança assusta-se e corre para mim. Um estrondo do caraças, digo eu! Abraço-o. Logo depois uma luz retumbante e pouco depois outro trovão. Não havia roubos nem bandidos, era o Inverno que voltava.

Por: Diogo Cabrita

Sobre o autor

Leave a Reply